Colmeias exterminadas por agrotóxicos são problema mundial. No Brasil, há registros em São Paulo e Minas
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está investigando o extermínio de abelhas por intoxicação atraves de agrotóxicos em colmeias de São Paulo e Minas Gerais. Os estudos com inseticidas do tipo neonicotinóides são desenvolvidos em vários centros. Trata-se de um problema de escala mundial, presente, inclusive, em países do chamado primeiro mundo, e que traz como conseqüência, grave ameaça aos seres vivos do planeta, inclusive o homem.
De acordo com Márcio Freitas, coordenador geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas e Produtos Perigosos, desde 2010 o Ibama está reavaliando vários produtos suspeitos de causar colapsos e distúrbios em colmeias. Freitas, que se expressava também pelo Comitê de Assessoramento da Iniciativa Brasileira para Conservação e Uso Sustentável dos Polinizadores, a intoxicação prejudica a comunicação entre as abelhas e isto impede que retornem às colmeias, levando os enxames ao extermínio.
PROIBIÇÃO
Enquanto não são concluídas as análises dos produtos investigados, foi proibida a aplicação aérea (por avião) e na época da florada, para não prejudicar a ação de insetos, aves e morcegos. “Interessa ao IBAMA conhecer e entender o comportamento dos polinizadores, bem como estabelecer medidas de mitigação para protegê-los”.
Estudos realizados em todos os continentes mostram que abelhas, marimbondos, borboletas, morcegos, formigas, moscas, vespas e beija-flor, estão seriamente ameaçados de desaparecer em função do uso indiscriminado de pesticidas e agrotóxicos na agricultura. É claro que o balé harmônico de polinizadores como o beija-flor em volta das flores, à procura do néctar, encanta homens e mulheres de todas as idades. Mas a maioria desconhece como são essenciais à existência e manutenção da vida no planeta.
DEPENDÊNCIA
Durante a reunião da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistêmicos (IPBES), em Antalya, Turquia, foram divulgados em dezembro 2013 para 400 especialistas de 100 países. Mostram que pelo menos três quartos (75%) das culturas do mundo dependem da polinização por abelhas e outros agentes, para se desenvolver e gerar frutos.
Há um programa de trabalho para preparar um conjunto de avaliações sobre a polinização e a relação que tem com a produção de alimentos, degradação da terra e espécies invasoras. O objetivo é fornecer aos formuladores de políticas, as ferramentas destinadas a enfrentar a pressão decorrente dos desafios ambientais. Deve estar concluído até 2020.
INTOXICAÇÃO
Baseando o estudo na polinização e na produção de alimentos, já em 2015 havia conclusões que estão catalogadas no Ibama. Pesquisadores vinculados à IPBES acreditam ser necessárias mais informações, a fim de se compreender melhor como a polinização sustenta a produção de alimentos, e avaliar a eficácia das políticas atuais.
Cientistas de todos os continentes concordam que a intoxicação dos polinizadores por agrotóxicos representa uma grave ameaça inclusive à sobrevivência do ser humano, caso nenhuma medida seja adotada. Segundo Ceres Belchior, analista ambiental e doutoranda em ecologia e conservação de recursos naturais, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), esses produtos podem provocar a morte de polinizadores e aves. É a razão que a leva sugerir restrições na aplicação, pelo menos durante a florada.
Como o assunto integra as políticas e ações estruturantes do MMA, o secretário de Biodiversidade e Florestas à época, Roberto Cavalcanti, enumerou 6 eixos temáticos a serem trabalhados:
1) relações entre a polinização e a cultura agrícola;
2) política para apicultura no Distrito Federal, situado numa região que abriga mais de 500 espécies de abelhas nativas;
3) elaboração de projeto de lei voltado ao pagamento por serviços ambientais com polinização;
4) conservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais, que, no Cerrado, somam pelo menos 12 mil espécies de plantas lenhosas preferidas pelas abelhas;
5) avaliações da política de mudanças do clima e os impactos na polinização;
6) reavaliação do licenciamento de agrotóxicos e pesticidas.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
Cavalcanti foi a uma audiência pública na Câmara dos Deputados. Parlamentares formaram opinião sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos e os reflexos que causam ao ecosistema. Alertou na ocasião que 87,5% das espécies de plantas com flores conhecidas no mundo, dependem de polinizadores (insetos, aves, mamíferos) para gerarem frutos e sementes sadios.
Disse que os polinizadores são tão importantes que 75% da alimentação humana dependem, direta ou indiretamente, de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização. “Sem polinizadores, as plantas não se reproduzem e as espécies que delas necessitam, declinam. Deu como exemplo a abelha (Apis mellifera) polinizadora de importância agrícola mais utilizada no mundo”.
Destacou a importância econômica dos polinizadores, que movem a economia mundial. Dados de 2007 mostram que verduras e frutas lideram as categorias de alimento que necessitam de insetos para a polinização. Geraram riquezas em torno de R$ 160 bilhões (50 bilhões de euros) para cada uma dessas áreas. Em 2009, o valor econômico anual total da polinização, girou na casa dos R$ 489,6 bilhões (cerca de 153 bilhões de euros), o que representou 9,5% do valor da produção agrícola mundial para alimentação humana.
FRUTAS E VERDURAS
A cada ano, os polinizadores naturais geram uma economia superior a R$ 483 bilhões, no caso das culturas beneficiadas pela polinização por insetos, e a quantia astronômica de R$ 2,435 trilhões. Alertou o especialista que o declínio da quantidade de polinizadores pode levar à redução da produção de frutas, verduras e estimulantes (como café), abaixo do necessário para o consumo atual global.
Insetos, aves e animais polinizadores, como o morcego, estão ameaçados por causa da fragmentação dos habitats naturais, do uso indiscriminado de pesticidas, pela falta de práticas agrícolas amigáveis à conservação; surgimento de doenças; e mudanças climáticas inesperadas.
A Iniciativa Internacional para Uso Sustentável dos Polinizadores (IPI, na sigla em inglês), criada no ano 2000 e articulada pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), está empenhada em monitorar o declínio de polinizadores. Quer sasber as causas e impacto; resolver a falta de informações taxonômicas (que define os grupos de organismos biológicos) sobre polinizadores; medir o valor econômico da polinização; promover a conservação, restauração e uso sustentável da diversidade de polinizadores na agricultura e em ecossistemas relacionados.
FALTA PESQUISA
Nos EUA, a desordem e a desorientação das abelhas melíferas provocaram a perda de 90% das colmeias. Na Alemanha, França, Suíça e Península Ibérica, o desaparecimento das abelhas foi relacionado ao uso de inseticidas. O problema chegou ao Brasil e causou preocupação o extermínio de 5 mil colmeias de abelhas africanizadas no estado de São Paulo. A questão, segundo Roberto Cavalcanti, é que existem poucos estudos toxicológicos avaliando os efeitos dos pesticidas sobre outras espécies de abelhas, inclusive internamente.
No campo das políticas ambientais, o MMA está imerso em projetos e ações destinadas a evitar maiores prejuízos aos polinizadores. Nos próximos anos, os esforços também se destinam a apoiar estudos acadêmicos, como os inseridos no Projeto de Conservação e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentável, através de uma Abordagem Ecossistêmica. EEstudo foi iniciado em 2009 e tem previsão para acabar no final de 2015.
Projeto recebeu investimentos de R$ 67 milhões, executados pelo Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Verba foi destinada ao Brasil, Gana, Índia, Quênia, Nepal, Paquistão e África do Sul. O Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), repassou o valor de R$ 20,4 milhões.
MAIS CONHECIMENTO
Plano tem interesse em ampliar o conhecimento e oferecer ferramentas acessíveis aos profissionais que trabalham com a polinização; disponibilizar orientações e publicações sobre as limitações da prática de manejo de serviços relacionados com agroecossistemas. Agroecossistemas são a interpretação, avaliação e manejo do sistema agrícola, que permitem conduzir a produção com base nas inter-relações entre os elementos constitutivos como o homem e recursos naturais (solo, água, plantas e organismos e microrganismos). Quer conhecer melhor outros sistemas externos, do ponto de vista econômico, social, cultural e ambiental. Investimentosde entidades internacionais, procuram a valoração socioeconômica da polinização, além de fornecer ferramentas fáceis de serem utilizadas na identificação de polinizadores.
Uma das vertentes do projeto prevê a capacitação de agricultores para conservar e utilizar os serviços dos polinizadores silvestres, bem como melhorar a capacidade de pesquisa e construir ferramentas para desenvolvimento e manejo dos serviços de polinização. Várias culturas já se beneficiam dos resultados desses esforços, como é o caso da produção de melão, maracujá, melancia, abóbora, caju, castanha do Brasil, maçã, canola, tomate e algodão, entre outras.
No caso do algodão, a Rede de Pesquisas dos Polinizadores do Algodoeiro no Brasil, realizou um estudo sobre a atuação das abelhas no incremento da produção nas áreas de Cerrado, no sul da região amazônica e na Caatinga. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Carmem Pires, apesar de o algodoeiro não necessitar de polinização para produzir, ficou demonstrado que as flores desta cultura que recebem a visita de abelhas, apresentam aumento de 12%.
O postador José Walter, como todo bom sofista, não abordou o problema e foge, pela tangente, se escondendo no " o português está sofrível". JW assuma uma posição, deixe de ser camaleão. Está bom o meu português? Good bye Mr. Valdir