O trabalho analisou quatro ecossistemas tropicais:
florestas, savanas, sistemas aquáticos e recifes de
corais e contou com a participação de pesquisadores brasileiros.
Cientistas descobriram que os ecossistemas tropicais abrigam
quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das
espécies de aves do mundo. “Muitas delas não encontradas
em nenhum outro lugar”. Quem alerta é Joice Ferreira, pesquisadora
da Embrapa Amazônia Oriental (PA), coautora do trabalho.
Não é novidade no meio científico que os ecossistemas tropicais abrigam uma vasta diversidade de espécies de plantas e animais e que são fundamentais para o bem-estar de milhões de pessoas em todo o planeta. A novidade é que o grupo internacional de pesquisadores quantificou a biodiversidade presente em regiões tropicais e os resultados suscitam um alerta global para a necessidade de evitar a perda de espécies nos trópicos e de reverter danos já causados.
O professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster (Reino Unido), autor principal do artigo, diz que o declínio da saúde dos ecossistemas tropicais afeta o bem-estar de milhões de pessoas cujas necessidades básicas dependem desses sistemas. “Por exemplo, estima-se que 70% da precipitação na bacia do Rio da Prata, de 3,2 milhões de km², entre o Uruguai e a Argentina, venha da evaporação na Amazônia, na Região Norte do Brasil”, afirma o especialista.
Os números do estudo são impressionantes. O habitat de 10 grupos
animais e plantas, entre aves, anfíbios, peixes de água doce, mamíferos
terrestres, formigas e outros, foram analisados e os ecossistemas tropicais
abrigam pelos menos 60% da quantidade de espécies de oito desses grupos.
Isso significa que nos trópicos são encontrados 91% das espécies de aves
do planeta; 83% dos anfíbios; 81% dos peixes de água doce; 79% das
espécies de formigas; 77% dos mamíferos terrestres; 75% das espécies
de plantas; e 66% das espécies de peixes marinhos.
“Para se ter uma ideia da importância dessas regiões, mesmo as aves que não são nativas dos trópicos, se abrigam nesses ecossistemas por longos períodos em função do movimento migratório de determinadas espécies”, conta Cecília Leal, coautora do estudo, do Museu Paraense Emilio Goeldi.
O grupo de especialistas mostra que os ambientes hiperdiversos, como são chamados os ecossistemas tropicais, vêm passando por uma série de estresses tanto no âmbito local, como desmatamento, extrativismo predatório, quanto global, como as mudanças climáticas. A soma desses problemas locais e globais trouxe ameaças e risco de extinção de diversas espécies de animais.
Na Região Norte do Brasil, por exemplo, algumas espécies ameaçadas merecem destaque, segundo os especialistas. Há centenas de espécies de aves em risco de extinção, incluindo papagaio ararajuba (Guaruba guarouba) e gavião real (Harpia harpyja). Tem também a anta (Tapirus terrestris), o peixe-boi (Trichechus inunguis), a ariranha (Pteronura brasiliensis) e espécies de macaco, como uacari-branco (Cacajao calvus), todos com habitat natural na Amazônia e em risco de extinção.
O artigo faz uma revisão analítica de mais de uma centena de estudos nas áreas ambiental e social e propõe áreas-chave de ação para preservar os ambientes tropicais hiperdiversos. “Responsabilidade coletiva, estratégias diversificadas de conservação da biodiversidade e inovação são três princípios fundamentais para transformar a saúde desses ecossistemas vitais”, afirma um dos autores do artigo, o pesquisador Toby Gardner, do Instituto de Meio Ambiente de Estocolmo (SEI).
O pesquisador enfatiza que é preciso considerar a vasta base científica já existente no Brasil e no mundo para a promoção do desenvolvimento sustentável. Por outro lado, é preciso estar aberto às novas evidências e experiências, principalmente pesquisadores e tomadores de decisão. “Nas últimas décadas, houve um boom de propostas, inovações e insights sobre ciência, governança e gestão de ecossistemas tropicais”, completa.
Para Joice Ferreira, da Embrapa, parte da solução está no fortalecimento da capacidade das instituições de pesquisa nos trópicos. “Apesar de algumas exceções notáveis, como a Embrapa, a grande maioria dos dados e pesquisas está concentrada em países fora dos trópicos”, afirma a pesquisadora. O que, para ela, é uma fragilidade. “Espera-se que quem vive no Brasil, e particularmente na Amazônia, tenha o domínio do conhecimento sobre a região, mas não é o que acontece na maioria das vezes”, completa. Já o pesquisador Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, afirma que os mercados externos têm um papel crítico no futuro dos trópicos e que as pressões precisam ser equilibradas pela ajuda internacional.
Enfatizam ainda os autores, a dimensão internacional da pesquisa e
a necessidade de ampliar e aprofundar redes e colaborações que
combinem especialistas de diferentes países e disciplinas, tanto
de instituições públicas quanto privadas. “Governos, empresas,
investidores e organizações da sociedade civil têm na construção
coletiva recursos preciosos para ações de conservação”, avaliam
os pesquisadores, que trabalham em uma rede colaborativa de
pesquisa na Amazônia há quase dez anos.
A Rede Amazônia Sustentável é um consórcio de instituições brasileiras e internacionais de pesquisa, que atua na avaliação da sustentabilidade dos usos da terra no leste da Amazônia desde 2010. A iniciativa reúne mais de 30 instituições parceiras, entre elas Embrapa Amazônia Oriental e Embrapa Territorial (SP), contando com quase 100 pesquisadores e estudantes de diversos países.
Fonte: EMBRAPA - Ana Laura Lima
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