Com uma área que equivale a soma dos territórios de Espanha, França, Alemanha, Itália e Inglaterra juntos, o Cerrado brasileiro já perdeu 48% da vegetação original, em parte pelo avanço da exploração agrícola e pela ocupação desordenada do solo.
Para os especialistas, que participaram do debate promovido pelo Comitê Gestor de Sustentabilidade da Câmara dos Deputados (EcoCâmara) e pela ong Rede de Sementes do Cerrado, a saída para equilibrar a necessidade humana de uso da terra com conservação ambiental passa por gestão e adaptação.
Professor da Universidade de Brasília, o doutor em ecologia Carlos Klink argumenta que o País já possui instituições, conhecimento e políticas para fazer um planejamento do Cerrado muito melhor do que o que vem sendo feito. “O Cerrado está globalizado, seja pela produção agrícola ou pelo papel ambiental. A ciência já olha o Cerrado de forma diferente, mas há uma dificuldade entre o que a ciência conclui e o que se decide em termos de políticas”, disse Klink. Na opinião do especialista, o conhecimento científico deve se tornar mais engajado na busca de soluções.
Cadastro Ambiental Rural
Segundo Klink, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um instrumento importante de gestão a ser usado para conhecer planejar a produção agrícola em conjunto com a preservação ambiental.
O CAR é um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais e que servirá de base para o controle, o monitoramento e o combate ao desmatamento no Brasil, assim como para planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais.
Por sua vez, o engenheiro agrícola Jorge Werneck, pesquisador em Hidrologia da Embrapa Cerrados, destacou o papel do Cerrado como “grande guarda-chuva” do Brasil, contribuindo para a formação de 8 das 12 bacias hidrográficas do País. “Cerca de 50% da capacidade de geração hidrelétrica depende de águas do cerrado. Só para dar um exemplo, 50% das águas que passam pela Usina de Itaipu vêm do Cerrado”, exemplificou Werneck, alertando para a redução, ao longo dos anos, dos volumes dos reservatórios de água do Cerrado.
Para o pesquisador, no entanto, os caminhos para preservar o bioma que responde por cerca de um terço da biodiversidade brasileira podem ser melhorar a gestão dos recursos hídricos e florestais e, em caso de estiagem, adaptar-se.
Apesar de reconhecer que em algumas regiões já existem mais pessoas dentro das áreas das bacias hidrográficas do que os rios podem suportar, Werneck prefere não estabelecer uma relação direta entre a ocupação desornada do solo e a variação das chuvas. “Se é o desmatamento ou a mudança do uso do solo que criou essa zona de alta pressão aqui no meio do País, eu não sei. E esses estudos são complexos e cheios de incertezas”, disse.
Patrimônio nacional
Presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Cerrado, o deputado Augusto Carvalho (SD-DF) aproveitou o evento para defender a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 504/10, já aprovada pelo Senado, que inclui o Cerrado e a Caatinga entre os biomas considerados patrimônio nacional, assim como já são a Amazônia, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal e a Zona Costeira.
Segundo Carvalho, a importância da PEC já foi levada ao conhecimento do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que ficou de discutir a inclusão em pauta da matéria com o Colégio de Líderes.
A PEC é vista como um reconhecimento simbólico da importância do Cerrado, mas esbarra na resistência da bancada da agropecuária, que teme que a mudança abra espaço para leis restritivas à expansão da produção no campo.
Fonte: Agência Câmara
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