Maria da Conceição Tavares
Falecimento em 8/Junho/2024

Nascimento em 24/Abril/1930

Maria da Conceição de Almeida Tavares nasceu em Anadia, Portugal e morreu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. 

Economistamatemática e escritora.

Trabalhou na elaboração do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e foi professora titular da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).[2][3]

Filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), também foi deputada federal pelo estado do Rio de Janeiro entre 1995 e 1999, e é autora de diversos livros sobre desenvolvimento econômico.

Maria da Conceição nasceu em Anadia, em Aveiro, mas cresceu em Lisboa. Criou-se com mãe católica, e teve pai, professante anarquista que abrigou refugiados da Guerra Civil Espanhola, em plena era Salazar.[4]

Após iniciar o curso de Engenharia na Universidade de Lisboa, Maria transferiu-se para Ciências Matemáticas, licenciando-se em 1953. Para fugir da ditadura salazarista em Portugal, transferiu-se para o Brasil em fevereiro de 1954, já casada com seu primeiro marido, o engenheiro Pedro José Serra Soares, e grávida de sua filha Laura. Ela se estabeleceu com a família no Rio de Janeiro.[5][2][3][6]

Quando chegou ao Brasil, ela começou a participar das atividades e debates promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Por não conseguir a equivalência de diplomas que lhe permitiria dar aulas em universidade, em 1955 começou a trabalhar como estatística no Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), atual Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Em 1957, adotou a cidadania brasileira. Nessa época, depois de ter percebido que o conhecimento da matemática não era suficiente para o caminho profissional que pretendia seguir, matriculou-se, ainda em 1957, no curso de Economia da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. No ano seguinte, tornou-se Analista Matemática do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde trabalhou até 1960. Entre 1958 e 1960 ela foi também membro do Grupo Executivo de Indústria Mecânica Pesada (Geimape), um dos grupos executivos surgidos durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek. Seu trabalho era ligado ao Conselho do Desenvolvimento, organismo central de planejamento subordinado diretamente à presidência da República, encarregado de elaborar e coordenar os programas setoriais definidos pela política econômica do governo.[2]

Seu trabalho sofreu influência de três outros economistas brasileiros: Celso FurtadoCaio Prado Jr. e Ignácio Rangel, que a despertou para as questões relacionadas ao capital financeiro.[7][8]

"Isso eu devo ao Ignácio Rangel, que chegou para mim e disse: "A esquerda tem a mania de não estudar essa coisa de moeda e finanças, e isso dá muito mau resultado." Eu disse: "Em finanças públicas tem gente." "Mas eu não estou falando disso, estou falando de bancos, balanços, essas coisas que vocês nem dão bola. Precisa estudar, precisa saber, porque a inflação..." E começou com as coisas dele sobre a inflação."[7][8]

Maria da Conceição escreveu centenas de artigos e vários livros, destacando-se Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil – Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro, de 1972. Dentre os textos que compõem esse livro o ensaio Além da estagnação, escrito com seu assistente José Serra, constatava, ao contrário do afirmado por Celso Furtado nos anos 1960, que era possível atingir elevado crescimento econômico, como demonstrara o Milagre Econômico brasileiro, embora com aumento ainda maior da concentração de renda.[9] O livro foi escrito no fim dos anos 1960, quando chefiava o escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil.[10][11][12]

Em outubro de 1968, foi designada para o escritório da Cepal no Chile, onde também foi convidada a lecionar na Escolatina, ligada à Universidade do Chile.[9] Sua presença no Chile nessa época evitou que fosse presa ou punida pelo AI-5, lançado em dezembro de 1968.[9] Em outubro de 1971 licencia-se da Cepal para iniciar uma pós-graduação na Sorbonne em Paris.[9] Com a piora da situação econômica, voltou ao Chile e passou a trabalhar, entre maio de 1972 e março de 1973, como assessora econômica voluntária do Ministro da Economia, Carlos Matus, no governo da Unidade Popular do Presidente Salvador Allende.[9][13] Em fins de 1973, foi para a Universidade Autônoma do México como professora visitante, e trabalhou no escritório da Cepal daquele país durante o ano de 1974.[9] Em novembro de 1974, quando se preparava para embarcar do Galeão para uma reunião em Santiago, foi detida e ficou alguns dias sequestrada pelos órgãos da repressão da Ditadura Militar.[14] Ela foi liberada por intervenção direta do ministros Severo Gomes, da Indústria e Comércio, e Mário Henrique Simonsen, da Fazenda, junto ao Presidente Ernesto Geisel.[15][9]

Nos anos 1980, Maria da Conceição Tavares era um dos principais nomes da assessoria econômica PMDB e lecionava no Instituto de Economia da Unicamp, onde ela ajudara a implantar os cursos de mestrado e doutorado do departamento.[9][16] Dois dos seus colegas professores de economia na Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manuel Cardoso de Mello, trabalharam no assessoramento do Ministro da Fazenda Dilson Funaro na elaboração do Plano Cruzado, programa do governo Sarney destinado a combater a hiperinflação da época com, entre outras coisas, a aplicação de congelamentos de preços.[17] Embora a eclética equipe econômica contasse com nomes dos futuros elaboradores do Plano Real Pérsio Arida e André Lara Resende, que tendo assumido cargos na diretoria do Banco Central para auxiliar no Plano Cruzado e pertencerem a um departamento de economia como o da Puc-Rio, de tendência liberal e não desenvolvimentista como a Conceição Tavares, mas que não tiveram suas imagens nem a do seu departamento de economia associados ao Plano Cruzado por causa da emoção demonstrada por Maria da Conceição Tavares quando ocorreu o lançamento do plano, em março de 1986.[17][18] Conceição Tavares emocionou-se e chorou em rede nacional por considerar que de partida o Plano Cruzado não era prejudicial aos assalariados e desfavorecidos da sociedade brasileira.[19][17] Em entrevista de 2015, ela disse que se comoveu por ser o primeiro plano anti-inflacionário que não prejudicava o trabalhador; que "foi uma experiência amarga, depois, capotou tudo de maneira estrondosa".[18] Pela presença pública conquistada na época, ganhou uma imitação no programa humorístico Escolinha do Professor Raimundo, interpretada por Nádia Maria.[20]

Entre junho de 1993 e setembro de 2004 assinou a coluna Lições Contemporâneas para o jornal Folha de São Paulo.[21] Inicialmente seus textos eram publicados a cada semana, mas depois passou dividir a coluna com seus colegas economistas, Aloizio MercadanteLuciano Coutinho e Luiz Gonzaga Belluzzo.[9]

Em artigo para a Folha de S.Paulo de 4 de setembro de 1994, criticou o Plano Real, ressaltando as perdas salariais ocasionadas pelos índices adotados para os reajustes dos salários e sobrevalorização cambial.[22] Tendo sido eleita deputada federal pelo PT do Rio de Janeiro em 1994, se tornaria uma das críticas mais contundentes da orientação econômica do governo FHC.[23][24][25][26][19] No ano de 1998, venceu o Prêmio Jabuti na categoria 'Economia'.[2]

Maria da Conceição Tavares em Brasília com o então Ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Tavares posicionou-se contra a formatação do programa Bolsa Família. Para ela, a focalização seria uma experiência fracassada, empurrada goela abaixo de países latinos pelo Banco Mundial.[27] Maria da Conceição Tavares chamou os criadores da "Agenda Perdida" (José Alexandre ScheinkmanRicardo Paes de Barros e Marcos Lisboa) de "débeis mentais".[27] Palocci defendeu o programa e seu formato, dizendo que "A focalização é uma questão de bom senso e não de política de direita ou de esquerda".[28]

Durante uma entrevista em 2007, Tavares apontou que o dólar valorizado era um paradoxo, bom para os trabalhadores mas ruim para a indústria.[29] Em 2010, criticou a proposta de criação Fundo Soberano brasileiro.[30]

Na eleição presidencial de 2010, Maria da Conceição Tavares viu dois ex-alunos seus chegarem ao segundo turno; mesmo amiga pessoal de José Serra, avisou-o que votaria em Dilma Rousseff.[31] Em 2016, se manifestou contra a aprovação da PEC do Teto dos Gastos Públicos, a qual, segundo ela, iria contra até mesmo os preceitos do Fundo Monetário Internacional (FMI).[32]

Ao longo de 60 anos, formou gerações de economistas e líderes políticos brasileiros, entre eles José Serra, Carlos LessaEdward AmadeoAloísio TeixeiraLuciano CoutinhoLuís Gonzaga Beluzzo e João Manuel Cardoso de Melo. Ela é torcedora apaixonada do Vasco da Gama.[33]

Em setembro de 2018, foi lançado um documentário sobre sua vida, dirigido por José Mariani, com a duração de 75 minutos.[34][35][36] Em 2021, ficou subitamente popular nas redes sociais, quando usuários começaram a compartilhar trechos de entrevistas e aulas gravadas suas, particularmente uma disciplina de economia política ministrada na Unicamp em 1992.[37] Um trecho tirado de uma entrevista no programa Roda Viva da TV Cultura, em 1995, viralizou no aplicativo TikTok: "Se você não se preocupa com justiça social, com quem paga a conta, você não é um economista sério. Você é um tecnocrata".[38]