O sensor desenvolvido por pesquisadores do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) pode ajudar a evitar casos de intoxicação por monóxido de carbono (CO), possível causa das mortes de seis turistas brasileiros ocorridas no Chile no último dia 22 de maio de 2019.
Acidente com monóxido de carbono é comum
em vários países em que se utiliza aquecimento
a gás, incluindo o Brasil. Na Argentina, por exemplo,
são registradas 250 mortes e 2 mil casos
de intoxicação pelo gás tóxico todos os anos.
O dispositivo foi apresentado no dia 24 de maio durante o Simpósio de Pesquisa e Inovação em Materiais Funcionais, promovido na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pelo CDMF e pelo Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Nas próximas semanas, o Congresso Nacional da Argentina vai votar um projeto de lei que torna obrigatória no país a inclusão do sensor em todos os aparelhos a gás para uso domiciliar. Em carta enviada na semana passada ao presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, os deputados argentinos Eduardo Bucca e Fernanda Raverta, autores da norma, enfatizaram a importância do projeto no combate a intoxicações por CO e agradeceram o apoio da fundação.
“O sensor pode ajudar a evitar mortes por inalação de monóxido de carbono tanto nos países vizinhos como no Brasil, onde esse tipo de acidente é registrado principalmente na Região Sul e, mais recentemente, no Nordeste, devido ao uso de aquecimento a gás”, disse o diretor do CDMF e um dos autores do dispositivo, Elson Longo.
O dispositivo consiste em um circuito integrado, do tamanho de um chip, com um sensor eletrônico de CO e outro de metano, já desenvolvidos e patenteados pelos pesquisadores.
Os sensores são compostos por óxidos semicondutores, como de cério, em escala nanométrica (da bilionésima parte do metro). Em contato com o CO e outros gases, esses óxidos apresentam uma mudança de resistência, que é processada e interpretada pelo circuito eletrônico como um sinal para interromper o fluxo de gás no equipamento em que o sistema está instalado, como um aquecedor de água.
“O monóxido de carbono é produzido pela combustão incompleta
do gás natural pela falta de oxigênio no ambiente. Por isso, ao
detectar a presença de CO acima do limite de segurança, o sensor
corta o fluxo de gás natural para o queimador”. É a explicação
do professor da Universidade de Mar del Plata e
um dos idealizadores do projeto, Miguel Adolfo Ponce.
De acordo com o pesquisador, a exposição a uma concentração de 0,02 partes por milhão (ppm) de CO não causa efeitos nocivos à saúde. Acima desse nível começa a causar sintomas perceptíveis, como sonolência e dor de cabeça. A exposição a 1.400 ppm de CO por uma hora é capaz de levar à morte. “O monóxido de carbono (CO) é particularmente perigoso porque é inodor, incolor e a tal ponto de provocar danos permanentes ao organismo em função do estado de saúde e do tempo de exposição”, explica Longo.
Alguns fatores dificultam a detecção de CO no ambiente. O gás é incolor, insípido, inodoro e não irrita as mucosas. A única forma de percebê-lo é pela coloração da chama do queimador – se ela não estiver azulada, característica da combustão completa do gás natural pela quantidade correta de oxigênio, pode ser um indício de emissão de CO.
Os aparelhos a gás responsáveis pela maior quantidade de
acidentes domésticos por inalação de CO são os aquecedores
de água para banho, causadores de 87% dos acidentes,
seguidos pelos calefatores (8%) e fogões (5%). “O sistema
que desenvolvemos pode ser facilmente instalado nesses equipamentos
de combustão de gases tanto residenciais como comerciais”, disse Ponce.
O dispositivo já gerou duas patentes e despertou o interesse de uma empresa argentina e outra brasileira, dispostas a fabricá-lo em conjunto. De acordo com o diretor do CDMF, o sensor deve custar em ter R$110 e R$250 e a estimativa é que esteja disponível no mercado dentro de 40 dias.
Com base nessa tecnologia, os pesquisadores desenvolveram outro tipo de sensor que pode ser acoplado a um smartphone e é capaz de detectar e indicar a presença de CO não só pela mudança da resistência elétrica, mas também pela cor, e indicar o perigo por meio de um aplicativo. “Esse sistema de monitoramento pode ser usado em minas, onde também são registradas mortes por intoxicação por monóxido de carbono”, disse Longo.
Fonte: Agência Brasil
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