Revelou esse dado ameaçador um estudo feito pelo doutorando Didier Gastmans, do Centro de Estudos Ambientais da Universidade Estadual Paulista, a UNESP, de Rio Claro. A Instituição obteve apoio da FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Abordagem comprova a seriedade das revelações sobre uma reserva de águas subterrâneas que existe há 720 mil anos; ajuda abastecer 90 milhões de habitantes e ainda contribui parta manter o nível de lagos e rios durante o tempo de estiagem.
Desenvolvido desde 2002, o levantamento da UNESP é mais um alerta porque mostra que o reservatório está diminuindo de tamanho e atesta a importância das chuvas para preservar o estoque. Prova também que a exploração abusiva pela abertura de novos poços é a causa maior da redução constante, constatada desde 1990. Isso se dá na região norte de São Paulo onde há populacionamento e exploração agrícola.
Super exploração
Pesquisador Gastmans afirmou que os indícios de super exploração estão claros no monitoramento dos poços e do nível dos reservatórios. Atividade atinge aqueles próximos das regiões de afloramento, que têm níveis de dois a três metros mais baixos, em média, mas também os grandes poços abertos pela indústria e agronegócio, nos quais o rebaixamento atinge médias de 60 a 70 metros em 10 anos. Nessa dinâmica "a água tem uma determinada profundidade no poço e vai baixando, o que demanda poços mais profundos e bombas mais potentes. Na porção oeste (do estado de São Paulo) a gente fala de grandes produtores e sistemas para abastecimento público. Pequenos produtores já sentem esse impacto em algumas regiões próximas da área de afloramento." Explicação do autor da pesquisa.
Esse rebaixamento dos níveis chega, em determinados pontos, a até 100 metros, considerável até para as dimensões do Aquífero, que tem níveis com 450 metros de espessura do reservatório, chegando a até 1 quilômetro de profundidade. A maior parte do consumo do Guarani é para o abastecimento urbano, e ao menos 80% se concentra no estado de São Paulo.
Um dos fatores que preocupa no curto prazo é que a chuva nas regiões de superfície, a partir das quais há recarga no aquífero, são muito concentradas. Apenas uma pequena parcela de chuva infiltra para o subsolo e ocorre escoamento maior; entra menos. Também há impacto do aumento da evaporação nas áreas de superfície, causado pelo aumento da média de temperatura nas regiões.
Falta política pública
Gastmans criticou a falta de um conjunto claro de ações por parte dos órgãos públicos, afirmando que a primeira ação necessária é conhecer os usuários. "É necessária a implantação de um sistema de monitoramento em tempo quase real, para conhecer e dimensionar os atendimentos e as políticas de curto e médio prazo". O segundo é consorciar água subterrânea e água superficial, para usar de maneira integrada de acordo com a disponibilidade sazonal.
"Também se faz necessário pensar no planejamento futuro: sempre se fala em desenvolvimento, mas os gestores parecem ignorar que não existe desenvolvimento plenamente sustentável, pois todo desenvolvimento tem um impacto e essas pessoas precisam começar a se antecipar aos problemas". O pesquisador da UNESP defendeu ainda a necessidade de pensar no uso de águas de melhor qualidade para abastecimento público e de águas de menor qualidade para outros usos, como irrigação de áreas extensas do setor sucroalcooleiro, de cítricos e de uso industrial.
Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas) informou que monitora todos os estudos relacionados à recarga do Aquífero Guarani e dos demais corpos d'água do Estado. "A gestão do aquífero é realizada de maneira integrada com outros recursos hídricos, visando garantir o equilíbrio entre as demandas de uso e a preservação ambiental." É a explicação da Agência.
A maior parte da captação de água no Estado de São Paulo se concentra em fontes superficiais (rios e lagos), sendo a captação em poços profundos, que acessam o Aquífero Guarani, a menor parcela do total dos recursos hídricos. "Toda captação de água no Estado está sujeita à outorga, concedida somente após criteriosa análise técnica."
UNESP e Fapesp usaram como marcadores, o monitoramento de isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio, para identificar a origem das águas que compõem o reservatório. Isso permitiu perceber as áreas de superfície que colaboram para a manutenção dos níveis do Aquífero Guarani. Também usaram um processo de datação com isótopos dos gases criptônio e hélio para datar a água de alguns poços, o que permitiu detectar idades variando de 2.600 anos, em Pederneiras, até 127 mil anos em Bebedouro, 230 mil anos em Ribeirão Preto e 720 mil anos no Paraná.
Fonte: Agência Brasil e UNESP
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