As descobertas do grupo foram apresentadas na revista New Phytologist. Outra
aplicação prática desses resultados será o desenvolvimento de gramíneas
mais digeríveis com maior valor nutricional para os animais ruminantes.
A biomassa vegetal possui considerável poder calorífico, mas a maioria dessa
energia está contida nas robustas paredes celulares, uma vantagem evolutiva
que ajudou as gramíneas forrageiras a sobreviverem e prosperarem por mais
de 60 milhões de anos. O problema é que essa robustez dificulta a digestão no
rúmen de bovinos e ovinos e é um obstáculo para a produção de etanol nas biorrefinarias.
Impacto global
"O impacto da pesquisa é potencialmente global, pois todos os países utilizam pastagens para alimentar os animais; e, várias biorrefinarias em todo o mundo usam essa matéria-prima". Explciação é de Rowan Mitchell, biólogo de plantas do Rothamsted Research, no Reino Unido, e co-líder da equipe.
Hugo Molinari, pesquisador no Laboratório de Genética e Biotecnologia da Embrapa Agroenergia (DF), que também coordena os trabalhos, informa que o setor envolve cifras bilionárias. "Somente no Brasil, os mercados potenciais desta tecnologia foram avaliados no ano passado em R$ 1,3 bilhão (US$ 400 milhões) para o segmento de biocombustíveis e de R$ 61 milhões para alimentação de bovinos. Além do impacto econômico, é importante dizer que é uma descoberta muito importante para a comunidade científica ", afirma o cientista da Embrapa.
Produção mais econômica
Bilhões de toneladas de biomassa de pastagens são produzidas todos os anos,
observa Mitchell, e uma característica-chave dessas forrageiras é a digestibilidade,
o que determina quão econômico é produzir biocombustíveis e quão nutritivo será
para os animais. O aumento da rigidez da parede celular, ou a chamada feruloilação,
reduz a digestibilidade.
"Há dez anos, identificamos genes específicos de gramíneas candidatos ao controle da feruloilação da parede celular, mas provou-se ser muito difícil demonstrar esse papel, embora laboratórios tenham tentado. Produzimos a primeira forte evidência para um desses genes identificados", conta o cientista.
A equipe de transformação de plantas utilizou um transgene para suprimir o gene endógeno responsável pela feruloilação para cerca de 20% da atividade normal. Dessa forma, a biomassa produzida tornou-se menos feruloilada (apresenta menor rigidez nas paredes celulares) em comparação a uma planta não modificada.
"A supressão não mostrou efeito óbvio sobre a produção de biomassa ou sobre a aparência das plantas transgênicas com menor feruloilação", observa Mitchell. "Cientificamente, agora queremos descobrir como esse gene atua no processo de feruloilação. Dessa forma, podemos tornar o processo ainda mais eficiente," prevê o pesquisador.
Avanço para o etanol brasileiro
As descobertas irão beneficiar o Brasil, detentor de uma indústria de bioenergia
em expansão que usa os resíduos de gramíneas, como milho e cana-de-açúcar,
como biomassas dedicadas para produzir bioetanol. A descoberta do gene permitirá
o desenvolvimento de plantas com paredes celulares mais fáceis de serem quebradas.
A consequência será o aumento da eficiência na produção de bioetanol o que, na
avaliação de Molinari, da Embrapa, irá ajudar a substituição de combustíveis de
origem fóssil e a redução a emissão de gases de efeito estufa.
"De forma econômica e ambiental, o setor agropecuário se beneficiará de uma forragem mais eficiente e nossa indústria de biocombustíveis se beneficiará da biomassa que precisa de menos enzimas para quebrá-la durante o processo de hidrólise", detalha o cientista brasileiro.
Para o professor de Bioquímica da Universidade de Wisconsin-Madison e pesquisador do Centro de Pesquisa de Bioenergia dos Grandes Lagos do Departamento de Energia dos EUA, John Ralph, a descoberta era há muito esperada e foi duramente conquistada. "Vários grupos de pesquisa estiveram muito perto da proteína / gene responsável pela feruloilação e [os trabalhos nessa área] começaram há cerca de 20 anos", conta o cientista que é co-autor da pesquisa e um dos pioneiros nessa área.
"O nosso grupo vem trabalhando desde o início dos anos 1990 nas ligações cruzadas de ferulatos na parede celular de plantas e desenvolveu métodos de ressonância magnética nuclear (RMN) que foram úteis na caracterização deste estudo", observa Ralph. "A descoberta disso foi muito difícil".
Fonte: Secretaria de Comunicação Embrapa
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