Afirmam os nutricionistas que o excesso de peso é uma epidemia e está intrinsicamente
ligado à venda de alimentos industrializados que nos EUA, cresceu 25% no mundo todo de
2011 a 2016, em comparação com 10%. Quem diz isso é a Euromonitor,
uma empresa de pesquisa de mercados. Mudança drástica ocorreu em relação aos
refrigerantes carbonatados: as vendas na América Latina dobraram desde 2000,
ultrapassando o consumo na América do Norte em 2013, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A mesma tendência se reflete no mercado de fast food, que obteve um crescimento mundial de 30% no mundo de 2011 a 2016, comparado com 21% nos Estados Unidos, de acordo com a Euromonitor. A Domino’s Pizza, por exemplo, abriu, em 2016, 1.216 lojas – uma “a cada sete horas”, segundo seu relatório anual – todas, com exceção de 171, fora dos Estados Unidos.
Obesidade é um problema que se refere tanto à economia quanto à nutrição. À medida que as multinacionais avançam nos países em desenvolvimento, alteram a agricultura local, estimulando agricultores a trocar as culturas de subsistência por commodities mais rentáveis, como cana-de-açúcar, milho e soja: a base de muitos produtos alimentícios industrializados.
É um ecossistema econômico que atrai lojas familiares, grandes varejistas, fabricantes e distribuidores de alimentos e pequenos vendedores.
Em lugares tão distantes como a China, África do Sul e Colômbia, o crescente poder das grandes empresas de alimentos também se traduz em influência política. Isso impede que autoridades em saúde pública consigam taxar refrigerantes ou criar leis destinadas a restringir os impactos dos alimentos processados na saúde.
“Em uma época em que o crescimento ocorre de forma mais moderada nas economias estabelecidas, acredito que a postura mais enérgica no mercado emergente irá prevalecer”, afirmou recentemente o diretor-executivo da Nestlé a investidores. Os mercados em desenvolvimento hoje são responsáveis por 42% das vendas da empresa.
Para algumas empresas do ramo, isso significa mirar especificamente no público jovem, como Ahmet Bozer, presidente da Coca-Cola, descreveu a investidores em 2014. “Metade da população mundial não tomou uma Coca nos últimos 30 dias”, disse. “Há 600 milhões de adolescentes que não tomaram uma Coca na última semana. Então temos uma enorme oportunidade”.
“Não vamos acabar com todas as fábricas e voltar a cultivar apenas grãos. Isso não faz sentido. Não vai dar certo”, disse Mike Gibney, professor emérito de alimentação e saúde na University College Dublin e consultor da Nestlé. “Se eu pedisse para 100 famílias brasileiras que parem de consumir alimentos processados, teria que me perguntar: o que elas comerão? Quem as alimentará? Quanto isso vai custar?”
Brasil
De muitas formas, o Brasil é um microcosmo de como rendimentos crescentes e
políticas governamentais fizeram com que a população vivesse mais tempo e com
mais qualidade e também serviram para erradicar amplamente a fome. Mas, agora
o Brasil enfrenta um novo e difícil desafio de nutrição: na última década, a taxa de
obesidade do País quase dobrou para 20%, e a parcela de pessoas com sobrepeso
praticamente triplicou, indo para 58%. A cada ano, 300 mil pessoas
são diagnosticadas com diabetes tipo II, uma doença relacionada à obesidade.
Também chama a atenção, no Brasil, a habilidade política da indústria. Em 2010, uma coalizão de empresas de alimentos e bebidas brasileiras destruiu uma série de medidas que buscavam limitar anúncios de junk food destinados a crianças. A última ameaça veio do presidente Michel Temer, um político de centro favorável ao setor empresarial cujos aliados conservadores do Congresso estão procurando impedir essa série de regulações e leis cuja intenção é estimular uma alimentação mais saudável.
“O que temos é uma guerra entre dois regimes alimentares, uma dieta tradicional com alimentos de verdade, produzidos por agricultores locais, e os produtores de alimentos ultraprocessados, feitos para serem consumidos em excesso e que, em alguns casos, viciam”, explicou Carlos A. Monteiro, professor de nutrição e saúde pública na Universidade de São Paulo.
“É uma guerra”, afirmou, “mas um dos regimes alimentares tem um poder desproporcionalmente maior ao do outro”.
Fonte: The New York Times
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