Para oficializar a suspensão "temporária" no País, a Data Privacy Brasil expediu este comunicado:
“Partindo de um conjunto de evidências jornalísticas sobre ausência de compreensão dos titulares de dados pessoais sobre os protocolos da World Coin, a ANPD corretamente se posiciona ao lado de autoridades de proteção de dados pessoais como a European Data Protection Board, que qualificam o sentido do ‘consentimento livre’ nos termos da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. O caso envolve uma discussão importante sobre vício de consentimento, uma prática proibida pela legislação brasileira.”
Foi a Autoridade Nacional de Proteção de Dados que obteve a interrupção do serviço de verificações de íris de brasileiros, invocando a proibição de remunerar pessoas pela coleta dessa biometria.
Comunicado da World ID aceita a proibição brasileira
“A World ID respeita a decisão da ANPD. Como a ANPD está ciente, será necessário tempo para cumprir com a ordem. Para permitir que a World conclua as mudanças em coordenação com a ANPD e garanta conformidade durante esse processo, estamos voluntariamente e temporariamente pausando o serviço de verificações. Os espaços físicos da World permanecerão abertos para fornecer educação e informações ao público e pedimos desculpas por qualquer inconveniente aos que desejavam se juntar à World agora”, informou a empresa, em nota.
O projeto World ID é um sistema que se vale dos padrões da íris para criar um código de validação, impossível de ser reproduzido por inteligência artificial. A empresa que o desenvolve é responsável pela fabricação de uma câmera avançada (Orb) que busca diferenciar humanos de robôs e inteligências artificiais.
A decisão da empresa foi tomada após o Conselho Diretor da ANPD de indeferir um recurso que pedia o prazo adicional de 45 dias para implementar mudanças no aplicativo e interromper a oferta de compensação financeira.
ANPD publicou a medida (250211) em Diário Oficial da União. "A decisão reforça o compromisso da ANPD com a defesa dos direitos fundamentais de privacidade e a proteção dos dados pessoais, garantindo que essas prerrogativas sejam respeitadas nas atividades de tratamento de dados pessoais no país."
Há cerca de três semanas, a ANPD havia proibido temporariamente a World de oferecer uma compensação financeira, seja em criptomoeda (WorldCoin – WLD) ou em qualquer outro formato, para pessoas que tivessem as íris escaneadas.
A decisão da ANPD foi tomada após diversas pessoas terem relatado que participavam do escaneamento da íris motivadas pelo recebimento de pagamento e que desconheciam o caráter do projeto.
Especialistas relataram que não há crime no escaneamento da íris, mas que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) considera a íris um dado biométrico ou um dado pessoal sensível e que, por isso, para trabalhar com esses dados, seria necessário um consentimento qualificado, que deveria primar pela informação. Como havia uma compensação financeira para isso, os especialistas entendiam que o consentimento não estava sendo realizado da forma adequada.
A "World" escaneia a íris das pessoas
para formar "passaporte digital".
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
“Estamos falando de consentimento qualificado, definido pela LGPD como manifestação livre, inequívoca e informada. O que tem um ponto de preocupação é o fato de haver compensação financeira. Ainda que a empresa afirme que não é um pagamento pelo consentimento, o que temos visto é que existe uma associação imediata entre o recebimento dos valores financeiros e autorização para o escaneamento da íris.
Ou seja, a impressão que passa é a de que o sujeito não está indo lá coletar a sua íris pela finalidade de se autenticar online, mas sim interessado em receber aqueles valores prometidos e oferecidos. Estamos falando de pessoas potencialmente mais pobres aderindo a essa prática.” Foi o que disse Nathan Paschoalini, pesquisador da área de governança e regulação da Data Privacy Brasil.
Fonte: Agência Brasil
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