Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, o enxerto também é realizado em hospitais especializados que não têm covidários ativos, mas o isolamento social somado ao medo do coronavírus fez muitos pacientes falharem no tratamento das doenças oculares. “O transplante é o último recurso para tratar o ceratocone que responde por 7 em cada 10 enxertos de córnea no País”, afirma. O índice é tão alto, explica, porque no início da doença os sintomas são visão embaçada e desfocada como acontece no astigmatismo. A diferença do ceratocone, ressalta, é o enfraquecimento progressivo das fibras de colágeno da córnea, lente externa do olho que toma o formato de um cone. “Esta deformação faz a luz entrar distorcida nos olhos e resulta em visão desfocada”, afirma.
Fatores de risco, sintomas e diagnóstico
Queiroz Neto ressalta que o ceratocone atinge cerca de 100 mil brasileiros. É uma doença multifatorial que geralmente aparece na infância ou adolescência. Pode estar relacionado à genética quando há casos na família, ser desencadeado por doenças alérgicas na pele ou vias respiratórias que em 70% dos casos causam coceira nos olhos, maior fator de risco do ceratocone. Locais empoeirados e estiagem prolongada que ressecam a lágrima também funcionam como gatilhos. Um levantamento feito pelo médico com 315 portadores de ceratocone mostra que a incidência de olho seco nos portadores da doença é de 24%, contra 12% em toda população.
Os principais sintomas do ceratocone elencados pelo médico são: troca frequente do grau dos óculos, visão de halos noturnos, aversão à luz do sol, maior fadiga visual e olhos frequentemente irritados.
O diagnóstico não pode ser feito por um exame oftalmológico de rotina sem a tomografia da córnea que avalia a espessura, face anterior e posterior da córnea. Isso porque, as principais características do ceratocone são o afinamento e a deformação da córnea.
Tratamentos
Inicialmente a correção visual é feita com óculos, mas conforme a doença progride é necessário substitui por lente de contato rígida que aplana a córnea e permite melhor correção da visão.
O oftalmologista afirma que o único tratamento capaz de minimizar a progressão do ceratocone é o crosslinking. Trata-se de uma cirurgia ambulatorial em que o cirurgião aplica na córnea riboflavina, vitamina B2 associada à radiação ultravioleta. Esta associação reticula as fibras de colágeno e aumenta em até 3 vezes a resistência da córnea, visando evitar o transplante. O especialista destaca que nem todos podem passar pela cirurgia. É necessário ter, no mínimo 400 micras de espessura na córnea.
Nos casos avançados as irregularidades na córnea pode tornar o uso da lente muito desconfortável, pondera. Uma alternativa para escapar do transplante, destaca, é a substituição por lente escleral cuja borda se apoiada na esclera, parte branca do olho, invés de ficar apoiada na borda da córnea.
Outra alternativa é o implante de anel intercoreano, comenta. A técnica consiste no implante de dois arcos que pode ser feito manualmente ou a laser. O especialista explica que o dispositivo faz uma pressão sobre a córnea e diminui a alteração na curvatura, melhorando a adaptação às lentes de contato. Na maioria dos casos, comenta, a visão também melhora. Sem estes tratamentos só resta o transplante e depois da pandemia a espera pela cirurgia pode demorar mais de um ano.
Fonte: Instituto Penidio Burnier, SP - Eutrópia Turazzi
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