Manaus, capital do Amazonas, 354 anos 221023
Aniversariante de 22/Outubro

Manaus (AM) - Pouco mais de dez meses após protagonizar cenas dramáticas provocadas pelo colapso do sistema de saúde durante a segundo pico da covid-19, Manaus chega aos 352 anos de história, neste domingo (24), com mais da metade da população imunizada e na expectativa de superar a pandemia mais letal dos últimos anos. Nesses três séculos e meio, a capital do Amazonas avança em meio aos obstáculos e mantém sua história e cultura vivas entre a população.

  A despeito da crise sanitária, a capital amazonense, elevada à categoria de cidade no dia 24 de outubro de 1848, Manaus teve crescimento vertiginoso nas últimas décadas. Com a ajuda de historiadores, moradores e especialistas de diversas áreas, o EM TEMPO faz um passeio pela história da cidade e aponta os desafios do futuro da capital amazonense.  

Segundo os registros históricos, os primeiros vestígios do que seria a cidade foram construídos no século XVII para demonstrar a presença lusitana e fixar domínio português na região amazônica, que na época já era considerada posição estratégica em território brasileiro. O núcleo urbano, localizado à margem esquerda do Rio Negro, teve início com a construção do Forte da Barra de São José, idealizado pelo capitão de artilharia, Francisco da Mota Falcão, em 1669, data que foi convencionada a usar como o nascimento da cidade.

O nome lembra a tribo indígena dos Manaós, que habitavam a região onde hoje é Manaus antes de serem extintos por conta da civilização portuguesa, e seu significado é “mãe dos deuses”.

Da borracha à industrialização

 

Da borracha à industrialização

Da borracha à industrialização | Foto: Divulgação

A partir do final do século XIX, após anos de avanço precário na urbanização, a capital experimentaria dois grandes ciclos econômicos que lhe transformariam na maior cidade da Amazônia: o Ciclo da Borracha e a Zona Franca de Manaus.

De acordo com o historiador Agnaldo Ribeiro, os dois momentos são ímpares na trajetória econômica e social da cidade, mas apresentam contornos completamente diferentes.

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O Ciclo da Borracha ocorreu especificamente em função das inovações tecnológicas que ocorriam na Europa e Estados Unidos por conta da Segunda Revolução Industrial, que inseriu as héveas (borracha) como matéria-prima revolucionária nas áreas de eletricidade, medicina siderurgia, artefatos de guerra, utensílios domésticos e, principalmente, como pneumático de bicicletas, motociclistas e o automóvel”"

Agnaldo Ribeiro, Historiador

 

Foi a partir do comércio desse novo produto que a região amazônica passou a receber intensas transações de recursos financeiros.

“De repente, Manaus, à época uma pobre aldeia mestiçada, se transformou em pouco tempo numa verdadeira metrópole regional. Com a riqueza abundante fluindo para a cidade, surgiu uma elite abastada que gastava a riqueza à tripa forra, não se importando com desenvolvimento de projetos de diversificação econômica fora do extrativismo gomífero. Com grana sobrando, alguns governantes, a exemplo de José Paranaguá e Eduardo Ribeiro, deram início a mega programas de obras de infraestrutura urbana e embelezamento da cidade para adequá-la aos moldes das grandes cidades europeias e americanas”, descreve.

Neste período, foram construídos prédios históricos que marcariam profundamente a identidade manauara, como o Teatro Amazonas, por exemplo, um dos principais cartões postais da capital.

 “Mas essas modernidades foram apenas para uma pequena parcela abastada da população concentrada no centro da cidade, o povão da periferia, o trabalhador, sofria com a carestia dos produtos básicos, morando em cubículos apertados, localizados em alagadiços, a beira dos córregos e lugares insalubres, sem a tão propalada infraestrutura sanitária de primeiro mundo que se dizia”, afirma.

O historiador relata que parte da população já sofria com problemas básicos, persistentes até os dias atuais, como a falta de água encanada, por exemplo. Entretanto, na época, o cenário foi agravado pelo contrabando de seringueiras para a Inglaterra e, posteriormente, para países asiáticos.

“Esse episódio do contrabando acabou com o monopólio amazônico do comércio do látex. Depois disso, em pouco mais de 60 anos, a sociedade das héveas entrou em colapso geral, desmoronando como um castelo de areia”

“Diante da amargura do declínio econômico, a cidade foi abandonada pelas grandes empresas, cessou o fluxo da riqueza fácil, teve sua população reduzida pela migração reversa e, de 'Paris das Selvas', ela se transformou em 'Porto de Lenha', permanecendo assim até a criação da Zona Franca”, explica Agnaldo.

  Já na segunda metade do século XX, surgiu a Zona Franca de Manaus, planejada durante a ditadura militar para ocupar e desenvolver a região que, segundo as autoridades do regime, estava isolada e atrasada econômica e socialmente e queriam “integrá-la” ao restante do país.  

“O projeto de industrialização atraiu fábricas importantes do mundo, que se instalaram no Distrito Industrial, provocando um aumento exponencial da população. Como consequência piorou a qualidade da educação, dos transportes, do abastecimento de água e de energia elétrica, da coleta de lixo e da destruição dos nichos ambientais entre outros. O planejamento do modelo não inclui esses quesitos fundamentais para beneficiar a sociedade na sua qualidade de vida”, concluiu o historiador.

Os desafios de Manaus

 

Capital do Amazonas ainda apresenta vários aspectos que precisam passar por melhorias

Capital do Amazonas ainda apresenta vários aspectos que precisam passar por melhorias | Foto: Arquivo EM TEMPO

Em 352 anos de história, a capital do Amazonas ainda apresenta vários aspectos que precisam passar por melhorias. No entanto, há alguns pontos positivos que merecem destaque.

Onde melhoramos?

- Empreendedorismo

A capital amazonense tem se destacado quando o assunto é competitividade e empreendedorismo, sendo considerada um local promissor para quem deseja empreender. Segundo um mapeamento realizado pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), publicado no site da revista Exame, Manaus está entre as 15 melhores cidades brasileiras promissoras para o empreendedorismo voltado para setores como eventos e turismo.

- Educação básica

Apesar de ainda existir uma longa estrada para alcançar um nível razoável, a educação básica de Manaus apresentou uma taxa de evolução significativa ao longo dos últimos anos.

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Educação, em 2020, a educação pública municipal de Manaus vem crescendo a cada edição do Ideb. Em 2013, a educação do município ocupava a 20º posição no índice, com nota de 4,1, para os Anos Iniciais e 3,1, nos Anos Finais.

A rede pública de Manaus alcançou as metas previstas para 2021, dois anos antes, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2019 (Ideb 2019). As escolas de ensino básico alcançaram a nota de 5,9 nos Anos Iniciais (AI) e 4,7 nos Finais (AF). Com os resultados, a cidade está agora entre as dez capitais brasileiras com o melhor desempenho na educação.

Onde precisamos melhorar com urgência?

 - Saneamento básico e relação com o meio ambiente

Mais de três séculos e meio de história e a cidade ainda não conseguiu proporcionar um número sequer aceitável de domicílios com atendimento de esgoto.

De acordo com dados da concessionária Águas de Manaus, cerca de sete em cada 10 residências de Manaus não têm acesso a serviço de tratamento de esgoto. A empresa informou que apenas 26% da população possui acesso ao serviço. Para a prefeitura, o número é pior, 22%.

Sem tratamento de esgoto, muitos manauaras, especialmente os que vivem próximos aos igarapés e rios poluídos, são obrigados a conviverem com o mau cheiro e sob o risco de contraírem doenças, problema agravado durante o período de cheia.

Ainda segundo o levantamento realizado pela concessionária, dos 187 bairros oficiais registrados pela Prefeitura, apenas 15 são atendidos pelos serviços de esgoto da concessionária.

- Violência

A escalada da violência na capital do Amazonas parece não ter fim. Desde os anos 2000, a cidade tem sido aterrorizada pelo embate entre organizações criminosas que disputam o controle do tráfico de drogas nos bairros manauaras.

Dados divulgados pelo Ministério da Justiça, no ano passado, revelaram um cenário sombrio da violência na capital amazonense. Manaus, com 2,2 milhões de habitantes, superou o número de mortes violentas de São Paulo, com 12,2 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Em números absolutos, a capital paulista contabilizou 566 mortes violentas, em 2020, enquanto Manaus registrou 687 homicídios, no mesmo período, embora abrigue uma população quase seis vezes menor.

- Transporte público e trânsito 

Sétima capital mais populosa do país, Manaus também possui uma das maiores frotas do Brasil com 798.215 veículos, entre carros, motos, ônibus e caminhões, segundo levantamento do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Sem alternativas de transporte público, milhares de Manaus enfrentaram trânsito intenso e um sistema de transporte sucateado diariamente.

Em um levantamento realizado pela plataforma Waze, em 2017, Manaus apareceu com Florianópolis e João Pessoa como uma das piores capitais para dirigir no Brasil. A pesquisa foi realizada com base no nível de trânsito, segurança das vias, qualidade das vias e infraestrutura, serviços ao motorista e fatores econômicos e sociais.

De acordo com o engenheiro civil e urbanista, Cláudio Bernardes, caso não haja mudanças na mobilidade urbana, o futuro será um trânsito ainda mais complicado.

"Há duas formas de você resolver o problema de mobilidade numa cidade: é investindo pesadamente em transporte público, em transporte de massa, que é um sistema de transporte caro e demorado e a outra é estruturar modelos de ocupações urbanas que permitam que a pessoa se desloque menos. Se a gente estruturar modelos na cidade onde a pessoa não tenha que se deslocar muito para fazer suas atividades diárias, você começa a resolver o problema de mobilidade, livrando o sistema de transporte para outras pessoas que precisam se deslocar", afirmou.

Perspectivas 

Para solucionar os problemas crônicos da capital, o economista Wallace Meireles aponta que a capital precisa de uma economia diversificada e menos dependente da Zona Franca. 

“Precisamos diversificar a economia, estimulando o empreendedorismo e resolvendo alguns problemas estruturais. O turismo, por exemplo, é uma questão importante, mas com a infraestrutura, com as dificuldades de deslocamento em um país continental como o Brasil, a gente acaba tendo dificuldades de viabilizar isso. Os serviços por conta disso precisam ser desenvolvidos. Então a diversificação da economia de Manaus é urgente. É necessário se ter um trabalho para isso, que integre os governos locais e federal”, afirmou Wallace.

O economista também destaca que o poder público precisa olhar com atenção aos bairros da cidade, onde o desenvolvimento econômico e, consequentemente, social são promissores.

“Quando a gente fala em diversificação, falamos que é preciso ter um olhar diferenciado para os bairros, para os centros comerciais, para as pequenas empresas que existem nos bairros. É isso que ajuda a gerar atividade econômica, empregos e isso que movimenta a atividade produtiva”, concluiu o economista.

Obras em Manaus

Uma série de entregas em comemoração ao aniversário de 352 anos de Manaus está sendo feita pelo governador Wilson Lima como modernização da AM-010, novo prédio do Cetam, Hospital do Sangue, “Cerco Inteligente de Videomonitoramento” da segurança pública e outras obras e serviços.

“As entregas que estamos fazendo nesta semana se somam a outros investimentos que temos feito em Manaus, como as obras viárias do Anel Sul e Leste, a modernização da AM-010, a conclusão da duplicação da AM-070, a construção do novo Cetam e do Hospital do Sangue, a reforma de cinco Caics (Centros de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente), entre tantas outras”, disse Wilson Lima ao destacar que, desde 2019, os investimentos do Estado em infraestrutura em Manaus superam R$ 1,2 bilhão, com mais de 40 obras já concluídas.

Reordenamento na Manaus Moderna

O prefeito de Manaus, David Almeida, anunciou serviços de revitalização do entorno das feiras da Manaus Moderna e da Banana, na avenida Lourenço da Silva Braga. A ação tem previsão de conclusão de até 60 dias e faz parte da Operação “Orla Mais Segura”, e visa garantir mais segurança e conforto para os frequentadores das tradicionais feiras da capital.

"Vamos entregar a feira aos feirantes. As famílias que querem frequentar as feiras e mercados estavam receosas por causa da quantidade de vendedores clandestinos. Vamos dar estacionamento. Antes, elas não tinham onde parar. Estamos alargando a pista. Vamos colocar 100 toneladas de asfalto e trazer de volta as pessoas que, costumeiramente, frequentavam as feiras da cidade de Manaus, a população que tanto utiliza esse serviço da Manaus Moderna e da feira da Banana", enfatizou Almeida (texto e imagem de emtempo.com.br).

 

Foto MTur, Ana Claudia Jatahy

 
 
 

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