Professor Carlos Augusto Moreira
Aniversariante de 13/Setembro

Professor Moreira é casado com a médica oftalmologista Saly Maria Moreira. Ambos fundaram o Hospital de Olhos, em Curitiba.

Sempre integraram o movimento de pesquisa e avanços para a saúde ocular. São também médicos de Oftalmologia, os filhos Junior, Hamilton e Luciane.

Mas a história profissional dessa família é impressionante pelo trabalho desenvolvido por muitas gerações, desde que ancestrais chegaram ao Brasil, vindos de Portugal.

Melhor saber dessa linda história pelas palavras do professor Carlos Augusto Moreira, numa publicação do jornal Jota Zero, do Conselho Federal de Oftalmologia.

 

E ele queria ser endocrinologista...

Um dos mais renomados oftalmologistas do País, patriarca de uma família que seguiu seus passos, Carlos Augusto Moreira conta nesta entrevista um pouco de sua luta, seu trabalho, sua família e da Oftalmologia no Paraná.
Tudo com entusiasmo e bom humor, marcas registradas que contribuíram para transformá-lo num dos mais queridos líderes da especialidade.

JOTA ZERO: Um pouco da sua história.


MOREIRA: Recebi o nome de Carlos porque era o nome do meu pai e Augusto porque é um nome que a família põe em seus membros há várias gerações e próprio da família Moreira. Nasci em Curitiba em 13 de setembro de 1931. Meu bisavô foi o primeiro Moreira a aportar no Brasil, fugido de Portugal por questões políticas, o que no final das contas não foi mau negócio, já que aqui no Brasil ele casou-se com a filha de um rico fazendeiro. Todos os filhos desse primeiro Moreira destacaram-se nos estudos e meu avô, Fernando Augusto Moreira, veio para Curitiba para ser chefe de oficina de um jornal e por que sua esposa, minha avó, estava tuburculosa e precisava de clima mais saudável que o do Rio de Janeiro. Aproveitou a ocasião e acabou criando o seu próprio jornal, “A República” que, como o próprio nome diz, dedicava-se a fazer o proselitismo em favor dos ideais republicanos durante o reinado de Pedro II. Curitiba era então uma aldeia e ele conseguiu destacar-se nos meios culturais, fez seu jornal e depois fundou um colégio. No início do século XX, Fernando queria ampliar seu colégio e fazer um curso semelhante ao que mais tarde ficou conhecido como madureza. Viajou para o Rio de Janeiro para pedir autorização, quando ficou sabendo que não precisava de autorização ou de licença para abrir cursos e que podia até abrir uma universidade. Voltou para Curitiba simplesmente fanatizado com a idéia de criar uma universidade neste fim de mundo e tanto fez que empolgou as elites locais e, em 1912, foi criada a primeira universidade do Brasil, aqui em Curitiba, que contava então com 40 mil habitantes.


A família Moreira.
Era uma universidade meio mambembe, é bom que se diga, mas sua criação e manutenção nos primeiros tempos é uma das páginas mais comoventes da história do Paraná. Um grupo de abnegados dedicou-se de corpo e alma a este ideal, chegando a colocar seus bens particulares como aval para a obtenção de recursos para a instituição. Todos os filhos de Fernando Moreira que sobreviveram foram professores universitários. Meu pai, Carlos Estrela Moreira, o mais velho, foi professor catedrático de anatomia por 40 anos na Universidade Federal e exercia a oftalmologia e otorrinolaringologia em seu consultório. Guardo até hoje sua caixa de lentes de provas. Sou o último dos seus cinco filhos...

 

 

 

JOTA ZERO: Todos médicos oftalmologistas?
 

MOREIRA: Não. Todos são professores universitários. O mais velho, Milton, fez neurologia. Laís dedicou-se à Saúde Pública. Homero é engenheiro, o único que desgarrou da área da saúde, foi diretor de xisto da Petrobrás e professor da PUC. Fernando foi otorrinolaringologista no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro e, por fim, eu, Carlos Augusto.

 

JOTA ZERO: Por que oftalmologia?
 

MOREIRA: Meu pai exercia oftalmologia e durante o curso trabalhei com ele, aprendi a ver fundo de olho, auxiliei em algumas cirurgias. Para falar a verdade, queria ser era clínico e, dentro da clínica trabalhar com endocrinologia. Era o que mais gostava de estudar. Na hora de escolher a especialidade, meu pai ponderou que estava para se aposentar e na oftalmologia ou na otorrinolaringologia eu teria melhores condições de começar a carreira. Como sempre tive uma noção prática da vida também, decidi ser oftalmologista.

JOTA ZERO: Escolhida a especialidade, como foram os estudos?
 

MOREIRA: Formei-me em 1955 e ganhei um prêmio da Universidade por distinção nos estudos. O prêmio era uma residência numa universidade argentina e, ao seu término, a garantia de uma vaga como auxiliar de ensino na cadeira escolhida. Passei uns meses no Hospital do Servidor Público do Rio de Janeiro e em 1956/57 fiz residência na Argentina. Fiquei bem entre os argentinos e fiz grandes amizades. Aconteceu até uma coisa engraçada. No primeiro ano todos resolveram sair de férias no mesmo período e o chefe do serviço, o Dr. Bertoldo, deu ordens expressas: “Olha Moreira, você vai ficar sozinho e não me faça cirurgia. Marque para quando voltarmos”. Nos primeiros dias, até admiti aquilo, mas logo, incentivado por uma enfermeira, comecei a operar catarata e pterígio. Quando o pessoal voltou de férias tiveram que aceitar o fato consumado e a partir de então passei a operar como qualquer um do serviço. Quando voltei para Curitiba, tive a grata satisfação de ter chefes que sempre me abriram caminhos. Fiz concurso de doutorado, fiz o concurso de livre docência, depois fiz uma coisa que provavelmente é inexistente no mundo. Fiz concurso para professor titular na Universidade Federal e abdiquei em favor de meu filho, Júnior, que também foi aprovado com louvor e que tinha todas as condições de exercer este cargo.

JOTA ZERO: E como foi a vida no consultório?
 

MOREIRA: Assim que voltei da Argentina passei a trabalhar junto com meu pai, no centro de Curitiba. No início atendia em alguns dias e ele em outros, com o passar do tempo fizemos uma divisão de trabalho na qual eu ficava com a maior parte dos clientes de oftalmologia e ele com a maior parte dos que precisavam de um otorrinolaringologista. Em certa ocasião, ele teve um problema renal e foi fazer exames no Rio e teve um choque anafilático e não voltou mais a clinicar. No início atendi aos pacientes dele, mas pouco a pouco fui abandonando a otorrinolaringologia e me concentrando na oftalmologia.

JOTA ZERO: E como surgiu a Saly?
 

MOREIRA: Fundamental na minha vida. Que me perdoem os outros, mas até hoje a Saly é uma mulher muito atraente e na ocasião em que a conheci era uma princesinha. Comecei a namorá-la com 18 anos (ela tinha 16) e foi uma paixãozinha encardida. Ela era muito disputada e requisitada e tive passagens até quixotescas. Tínhamos tudo a ver e fomos nos aproximando. Ela queria ser médica e passou em terceiro lugar no vestibular. Fez um curso brilhante. Neste meio tempo noivamos, quando incentivei a Saly a seguir a oftalmologia.


A esposa, Saly Moreira.
Ela queria fazer otorrinolaringologia e meu argumento foi: “que bobagem, Saly, enfrentar uma cirurgia que eventualmente pode até matar alguém. Venha fazer uma especialidade que no máximo cega a pessoa.” Deu certo. Quando voltei da Argentina, casamos, em 20 de julho de 1957. Em março de 1959 nasceu o Júnior. Três anos depois, em 1962, nasceu o Hamilton e oito anos depois, a temporã, Luciane. Por um caminho ou por outro, todos chegaram na Oftalmologia. A Saly foi uma das primeiras especialistas em lentes de contato do Brasil e ainda hoje é uma das pessoas que mais tem conhecimento nesta área e nossa felicidade conjugal atingiu um nível que nos permite ter discussões de todo tipo porque sabemos que elas não vão ter conseqüência mais séria.

 

JOTA ZERO: Como chegou ao CBO?
 

MOREIRA: Sempre me dediquei à área universitária e Curitiba era pobre de atividades acadêmicas. Como nunca fui tímido, comecei a frequentar eventos oftalmológicos no Rio e em São Paulo. Montei as primeiras reuniões de oftalmologia em, pouco a pouco, fui colocando Curitiba no mapa dos eventos e da Oftalmologia Brasileira. Eu e Saly começamos a fazer amizades em eventos e cursos, entre os quais Renato de Toledo, Rubens Belfort Junior e Newton Kara José. Fui convidado pelo professor Renato a integrar uma das comissões do CBO, embora durante a eleição eu fosse integrante da chapa que se opôs a ele. Sempre gostei de política e, no fim da gestão de Werter Duque Estrada, fui candidato e presidente do CBO. Estava com a carreira montada e não tive problemas maiores. Minha candidatura foi decidida no Aeroporto de Congonhas, numa reunião em que Newton Kara José, Rubens Junior e eu estávamos esperando um vôo qualquer e discutindo os problemas da Oftalmologia Brasileira. Numa hora percebemos que havia uma grande identidade entre nós e sugeri que montássemos uma chapa para concorrer à diretoria do CBO. Os dois me olharam, olharam entre si e decretaram: “vai você que é o mais velho”.

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