Professor Moreira é casado com a médica oftalmologista Saly Maria Moreira. Ambos fundaram o Hospital de Olhos, em Curitiba.
Sempre integraram o movimento de pesquisa e avanços para a saúde ocular. São também médicos de Oftalmologia, os filhos Junior, Hamilton e Luciane.
Mas a história profissional dessa família é impressionante pelo trabalho desenvolvido por muitas gerações, desde que ancestrais chegaram ao Brasil, vindos de Portugal.
Melhor saber dessa linda história pelas palavras do professor Carlos Augusto Moreira, numa publicação do jornal Jota Zero, do Conselho Federal de Oftalmologia.
E ele queria ser endocrinologista... Um dos mais renomados oftalmologistas do País, patriarca de uma família que seguiu seus passos, Carlos Augusto Moreira conta nesta entrevista um pouco de sua luta, seu trabalho, sua família e da Oftalmologia no Paraná. |
JOTA ZERO: Um pouco da sua história.
JOTA ZERO: Todos médicos oftalmologistas? MOREIRA: Não. Todos são professores universitários. O mais velho, Milton, fez neurologia. Laís dedicou-se à Saúde Pública. Homero é engenheiro, o único que desgarrou da área da saúde, foi diretor de xisto da Petrobrás e professor da PUC. Fernando foi otorrinolaringologista no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro e, por fim, eu, Carlos Augusto.
JOTA ZERO: Por que oftalmologia? MOREIRA: Meu pai exercia oftalmologia e durante o curso trabalhei com ele, aprendi a ver fundo de olho, auxiliei em algumas cirurgias. Para falar a verdade, queria ser era clínico e, dentro da clínica trabalhar com endocrinologia. Era o que mais gostava de estudar. Na hora de escolher a especialidade, meu pai ponderou que estava para se aposentar e na oftalmologia ou na otorrinolaringologia eu teria melhores condições de começar a carreira. Como sempre tive uma noção prática da vida também, decidi ser oftalmologista. JOTA ZERO: Escolhida a especialidade, como foram os estudos? MOREIRA: Formei-me em 1955 e ganhei um prêmio da Universidade por distinção nos estudos. O prêmio era uma residência numa universidade argentina e, ao seu término, a garantia de uma vaga como auxiliar de ensino na cadeira escolhida. Passei uns meses no Hospital do Servidor Público do Rio de Janeiro e em 1956/57 fiz residência na Argentina. Fiquei bem entre os argentinos e fiz grandes amizades. Aconteceu até uma coisa engraçada. No primeiro ano todos resolveram sair de férias no mesmo período e o chefe do serviço, o Dr. Bertoldo, deu ordens expressas: “Olha Moreira, você vai ficar sozinho e não me faça cirurgia. Marque para quando voltarmos”. Nos primeiros dias, até admiti aquilo, mas logo, incentivado por uma enfermeira, comecei a operar catarata e pterígio. Quando o pessoal voltou de férias tiveram que aceitar o fato consumado e a partir de então passei a operar como qualquer um do serviço. Quando voltei para Curitiba, tive a grata satisfação de ter chefes que sempre me abriram caminhos. Fiz concurso de doutorado, fiz o concurso de livre docência, depois fiz uma coisa que provavelmente é inexistente no mundo. Fiz concurso para professor titular na Universidade Federal e abdiquei em favor de meu filho, Júnior, que também foi aprovado com louvor e que tinha todas as condições de exercer este cargo. JOTA ZERO: E como foi a vida no consultório? MOREIRA: Assim que voltei da Argentina passei a trabalhar junto com meu pai, no centro de Curitiba. No início atendia em alguns dias e ele em outros, com o passar do tempo fizemos uma divisão de trabalho na qual eu ficava com a maior parte dos clientes de oftalmologia e ele com a maior parte dos que precisavam de um otorrinolaringologista. Em certa ocasião, ele teve um problema renal e foi fazer exames no Rio e teve um choque anafilático e não voltou mais a clinicar. No início atendi aos pacientes dele, mas pouco a pouco fui abandonando a otorrinolaringologia e me concentrando na oftalmologia. JOTA ZERO: E como surgiu a Saly? MOREIRA: Fundamental na minha vida. Que me perdoem os outros, mas até hoje a Saly é uma mulher muito atraente e na ocasião em que a conheci era uma princesinha. Comecei a namorá-la com 18 anos (ela tinha 16) e foi uma paixãozinha encardida. Ela era muito disputada e requisitada e tive passagens até quixotescas. Tínhamos tudo a ver e fomos nos aproximando. Ela queria ser médica e passou em terceiro lugar no vestibular. Fez um curso brilhante. Neste meio tempo noivamos, quando incentivei a Saly a seguir a oftalmologia.
JOTA ZERO: Como chegou ao CBO? MOREIRA: Sempre me dediquei à área universitária e Curitiba era pobre de atividades acadêmicas. Como nunca fui tímido, comecei a frequentar eventos oftalmológicos no Rio e em São Paulo. Montei as primeiras reuniões de oftalmologia em, pouco a pouco, fui colocando Curitiba no mapa dos eventos e da Oftalmologia Brasileira. Eu e Saly começamos a fazer amizades em eventos e cursos, entre os quais Renato de Toledo, Rubens Belfort Junior e Newton Kara José. Fui convidado pelo professor Renato a integrar uma das comissões do CBO, embora durante a eleição eu fosse integrante da chapa que se opôs a ele. Sempre gostei de política e, no fim da gestão de Werter Duque Estrada, fui candidato e presidente do CBO. Estava com a carreira montada e não tive problemas maiores. Minha candidatura foi decidida no Aeroporto de Congonhas, numa reunião em que Newton Kara José, Rubens Junior e eu estávamos esperando um vôo qualquer e discutindo os problemas da Oftalmologia Brasileira. Numa hora percebemos que havia uma grande identidade entre nós e sugeri que montássemos uma chapa para concorrer à diretoria do CBO. Os dois me olharam, olharam entre si e decretaram: “vai você que é o mais velho”. |
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