Esses dados sugerem "situação preocupante para a saúde pública no Brasil," porque mostra que é elevada a proporção de pessoas não diagnosticadas: entre 75% a 95%, conforme a região do País.
Foto: Edifício da Câmara em Lilás, campanha
de esclarecimento sobre o mal de Alzheimer.
Agência Câmara, Pierre Tiboli
Caracterizada pela perda progressiva de memória, e deterioração da condição humana, a doença afeta mais os idosos. Foi assim quando o médico Alois Alzheimer descreveu a doença no início do século 20, identificando lesões cerebrais.
“As taxas de não diagnóstico no Brasil são alarmantes. Quando vimos inicialmente os dados, pensamos que estavam errados. Recalculamos e era isso mesmo. A gente precisa ter mais conscientização sobre o Alzheimer. Há ainda estigmas.” São alertas da pesquisadora Claudia Suemoto.
A campanha de 2023 para o Mês de Conscientização
para o Alzheimer (Setembro Roxo), traz o tema
“Nunca é cedo demais, nunca é tarde
demais”, com foco maior na prevenção.
“Quanto mais a gente falar, muito menos não diagnósticos a gente vai ter. Haverá menos estigma e mais prevenção”, afirmou a professora.
Einstein de Camargos, professor de medicina da Universidade de Brasília (UnB), explica que a realização do diagnóstico precoce possibilita mais possibilidades de intervenções. “Não só com medicamentos, mas sobretudo com terapias cognitivas, estimulação, terapia ocupacional, exercício físico, fazendo com que esse processo seja mais lento”. Entende que, mesmo havendo subnotificação da doença, há maior visibilidade dos casos de Alzheimer.
Há consenso de especialistas de que a baixa educação é fator de risco para a doença.
Claudsia Suemoto fala assim: “Esse é um fator modificável para os quadros demenciais (como é a doença de Alzheimer). Se a gente melhorar a qualidade da educação, por exemplo, do povo brasileiro, a gente vai diminuir os risco para demência. Inclusive esse é o fator de risco mais importante no Brasil.”
O professor Camargos, da UnB, entende que esse dado "é extremamente importante porque mostra que a maior prevenção não está dentro da área da saúde em si. A escolaridade pode ser transformadora para a saúde em diferentes sentidos. E nesse caso é orgânico."
Profissionais médicos explicam que a resistência aos efeitos do adoecimento, devem estar relacionados à reserva cognitiva. “Se a pessoa teve maior estimulação cognitiva durante a vida, vai ter uma maior, com grande número de neurônios.” Suemoto concorda.
Acúmulo de proteína beta-amilóides é o que se observa no cérebro de pessoas que desenvolveram a doença de Alzheimer. Quanto maior a “força” cerebral mais resistência haverá contra a presença da proteína. Camargos elenca que essa resistência está, além do aumento da escolaridade, na redução do tabagismo, no controle do diabetes e da pressão arterial.
Em Medicina é algo favorável: essas descobertas médicas são
fatores de risco modificáveis na vida do indivíduo e da sociedade.
Claudia Suemoto aponta que se estima que 48% dos casos são
relacionados a fatores de início de vida (baixa escolaridade), da
meia idade (hipertensão arterial, perda auditiva, traumatismo
craniano, obesidade e consumo excessivo de álcool) e da
terceira idade (diabetes, tabagismo, depressão, isolamento
social, poluição ambiental e falta da atividade física).
“São todos fatores simples, mas bastante prevalentes. Se a gente modificasse a frequência deles na população, a gente estaria prevenindo demência, com certeza”, diz a professora. Uma boa notícia é que as melhores condições de vida diminuem os casos novos.
Se, por um lado, há subnotificação, segundo a professora Claudia, o que tem acontecido nos últimos 10 anos principalmente para a doença de Alzheimer, é que tem melhorado muito o diagnóstico. Na década passada, quando havia uma queixa de memória, a pessoa fazia alguns testes no consultório.
“Só que atualmente a gente consegue medir proteínas depositadas no cérebro e que são associadas a doença de Alzheimer".
Antes, porém, não era possível medir essas proteínas com pessoas vivas. Atualmente já é possível medir essas proteínas no liquor (o líquido que envolve o cérebro). Mas, para fazer o exame era preciso um procedimento muito invasivo. Hoje, o exame se tornou mais acessível com auxílio da medicina nuclear.
A médica Claudia Suemoto entende que há também alguma evolução nos medicamentos. “Hoje em dia, a gente já tem três drogas que limpam essa proteína beta-amilóide com resultados promissores. Limpam essas proteínas em pessoas com a doença mais leve. Então, a gente está tentando entender quais são os efeitos a longo prazo”, avalia Claudia.
Para a médica, existe efeito colateral nessas drogas que precisam ser avaliados. “É tudo muito novo, mas finalmente a gente tem uma medicação que parece mexer no mecanismo da doença.”
Einstein de Camargos avalia que os medicamentos ainda saem muito caros e estão longe ainda da aplicabilidade.
Médicos explicam que queixas de memória são sintomas mais conhecidos relacionados à doença. Lembranças do presente, fatos importantes do passado, nomes de pessoas, tornam-se desconhecidos para quem tem a doença. Mas é possível identificar como possíveis sintomas também pela perda de planejamento e confusão mental.
“A pessoa tinha afazeres domésticos e está tendo uma certa dificuldade. Não consegue mais dirigir, lembrar a rotina… Esses fatores são os que mais chamam atenção no dia a dia. Fora isso, deve-se ter atenção do ponto de vista do comportamento fora do habitual. A pessoa deve procurar um médico para afastar a doença de Alzheimer como primeira causa”, exemplifica Camargos.
Especialistas concordam ainda que existem medidas de prevenção fundamentais para evitar a doença, e passam também por necessidade de repousar. “Quem dorme menos de seis horas por noite aumenta o risco em 35% de ter demência. Pesquisas dos últimos 10 anos mostraram que dormir bem faz o cérebro limpar as toxinas do dia”, revela.
E quando se está acordado, é importante atividade física. Pesquisadores da Universidade de Brasília estão desenvolvendo um estudo detalhado para apontar a influência do exercício físico nesse sistema de limpeza cerebral. “Eu vou usar um termo simples. Precisamos encontrar os garis do cérebro que precisam trabalhar melhor e com mais condições. Assim, a gente vai ter uma redução dessa doença”
Fonte: USP e Agência Brasil, Luiz Claudio Ferreira
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Excelente! É preciso trazer assuntos que fazem parte da vida de inúmeras pessoas. A medicina preventiva é muito importante. Precisamos aprender a utilizá-la.