Pesquisa foi coordenada pelo oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier. Perito em medicina do trânsito, mostra que o ceratocone (doença ocular que altera a curvatura da córnea e geralmente aparece na adolescência), é um dos fatores que mais contribui com o alto índice de acidentes de transito entre jovens. Isso porque, 20% dos 315 participantes no levantamento afirmaram que o ceratocone dificulta a direção. Conclui que 1 em cada 8 não consegue dirigir à noite, e o mesmo índice não dirige, independente do horário e luminosidade.
Diz o oftalmoilogista que isso acontece porque a alteração na curvatura da córnea desfoca as imagens tanto para longe como para perto, diminui o reflexo, dificulta a leitura das placas de sinalização, além de aumentar a fadiga visual, a aversão à luz, o ofuscamento pelos faróis contra e a visão de halos noturnos.
Ceratocone, atinge 100 mil brasileiros e responde por 7 em cada 10 transplantes de córnea no Brasil. Trata-se, portanto de um grave problema de saúde pública, uma vez que a visão responde por 80% da integração com o meio ambiente. Quem passa por transplante pode ter rejeição da córnea; por isso alguns jovens são submetidos a vários transplantes.
"No início da doença, os óculos oferecem boa correção visual, mas a pesquisa mostra que 61% dos participantes só conseguem enxergar bem, com lente de contato. As lentes rígidas são usadas por 74% deste grupo porque aplanam a córnea e proporcionam melhor correção visual."
Tratamento do crosslinking
A pesquisa mostra que 12% dos participantes têm medo de passar pelo crosslinking, único tratamento que interrompe a progressão do ceratocone e evita o transplante. Queiroz Neto explica que as fibras de colágeno da córnea, lente externa do olho, são frágeis em quem tem a doença e por isso conforme evolui o formato, altera de esférico para o formato de um cone.
Crosslinking é um procedimento ambulatorial em que o cirurgião associa riboflavina (vitamina B2) e radiação ultravioleta para aumentar a resistência da córnea em até 3 vezes.
Queiroz Neto afirma que quando o páciente recebe indicação, o risco de passar pelo procedimento é menor do que não passar. A doença estacionou em 88% dos que passaram pelo crosslinking e 45% também tiveram melhora da visão.
Outra técnica para evitar o transplante de córnea, utilizada nos participantes da pesquisa, foi o implante de anel intercoreano que aplana a curvatura da córnea. Para 74% este implante melhorou a visão ,além de permitir melhor adaptação da lente de contato.
Outros 20% não passaram pelo procedimento por ter medo de complicações apesar do procedimento ser reversível.
O transplante de córnea só foi realizado por 12% dos participantes da pesquisa e apesar da cirurgia ter sido feita pelo método convencional 70% afirmaram ter grande melhora da visão e 32% uma pequena melhora.
Queiroz Neto ressalta que hoje o transplante pode ser feito com o laser de femtosegundo que torna o procedimento mais preciso ou ainda pela técnica lamelar. É a camada interna da córnea, o endotélio, preservada, reduzindo assim o risco de rejeição.
Queda em doações de córnea
O maior problema continua sendo a falta de informação e o acesso cada vez menor da população aos tratamentos de ponta para que se tenha uma grande redução no número de acidentes entre jovens.
Para quem foge da prevenção, a má notícia é que o relatório 2022 da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) revela que a taxa de doações de córnea caiu 7.1% em relação a 2021% porque mais familiares são contrários à doação.
Até março, 4.965 ingressaram na fila de espera do transplante de córnea e um total de 19.156 aguardavam pela cirurgia no final do primeiro semestre do ano.
Fonte: Instituto Penido Burnier SP - Eutrópia Turazzi
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