Estudo feito pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) revela que o gasto com casos de câncer relacionados à obesidade entre adultos, ficou em R$ 1,4 bilhão do total de R$ 3,5 bilhões aplicados em 2018 pelo Governo Federal no tratamento da doença na rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Feito em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a pesquisa é inédita e foi desenvolvida no final de 2019. O resultado foi publicado (210311), na revista científica internacional Plos One.
Ronaldo Corrêa, oncologista clínico do Instituto e coordenador da pesquisa, explica que de modo geral, o câncer é uma doença multifatorial. Isso significa que existem diversos fatores de risco para a doença, entre os quais o consumo de tabaco, de álcool e de carne vermelha, o sedentarismo e o excesso de peso ou obesidade.
Concluiu o estudo que são altos os gastos com cânceres vinculados ao excesso de peso, considerando o cálculo da fração atribuível. “A gente pega a prevalência do fator de risco na população, quer dizer, quantas pessoas têm excesso de peso na população brasileira em diferentes faixas etárias e por sexo e vê qual é a prevalência desse fator de risco. Quanto maior a prevalência, maior a chance que o fator de risco tem de estar causando o câncer.”
Consideram ainda os pesquisadores outro fator epidemiológico, que é o risco relativo. Essa medida de associação indica qual é a chance de uma pessoa com obesidade vir a ter um câncer em comparação a uma que não tem excesso de peso. A partir das duas medidas – prevalência e risco relativo – tais valores são aplicados na população brasileira e daí chega-se à fração atribuída.
Resultado evidencia quanto o excesso de peso contribui para os diversos tipos de cânceres
associados à obesidade. O estudo do INCA mostrou que, no câncer de endométrio
(corpo do útero), por exemplo, o índice ficou em torno de 24%. “Então, 24% dos
cânceres do endométrio no Brasil, segundo o nosso estudo, são devido ao
excesso de peso”, afirmou o médico. Isso significa que, a cada 4 cânceres
do endométrio, 1 é devido ao excesso de peso.
Corrêa avalia que no câncer de mama, a obesidade contribui com 5%; no câncer colorretal,
com 1,8%; no câncer de vesícula biliar, com 8%; no câncer do final do esôfago, cm,
16%; no câncer de próstata avançado, com 2,5%. “Em cada câncer que está
associado ao excesso de peso, esse fator tem uma contribuição relativa”.
Excesso de peso aumenta
Explicou o Médico que, se o excesso de peso for eliminado entre os brasileiros, pode haver menos 5% de casos de câncer de mama, menos 25% dos casos de câncer do endométrio e assim por diante. A pesquisa verificou que 80% de toda a despesa com os cânceres atribuíveis ao excesso de peso, foram com tratamento de tumores malignos de mama, colorretal e endométrio. Embora a contribuição do excesso de peso seja relativamente pequena para os cânceres de mama e colorretal, quando comparados ao de endométrio, o impacto econômico é alto pela alta incidência desses cânceres no País.
Dados recentes da Pesquisa Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, mostram o avanço do excesso de peso e da obesidade na população brasileira nos últimos anos. O percentual de pessoas obesas em idade adulta mais do que dobrou em 17 anos, passando de 12,2%, entre 2002 e 2003, para 26,8%, em 2019. Nesse período, a proporção dos adultos com excesso de peso passou de 43,3% para 61,7%, o que representa quase dois terços dos brasileiros. Entre os mais jovens, os dados também preocupam: um em cada cinco adolescentes com idade entre 15 e 17 anos apresentou excesso de peso, e cerca de um terço das pessoas de 18 a 24 anos é obesa.
Ronaldo Corrêa alertou que uma criança ou adolescente com excesso de peso tem potencial risco de se tornar um adulto com excesso de peso. “É provável que o excesso de peso na infância e adolescência seja um fator de risco para a pessoa permanecer com excesso de peso na vida adulta”. Esse adolescente corre o risco de desenvolver câncer quando adulto.
Análise do Brasil nos últimos 20 anos, indicará que houve aumento do excesso de peso tanto na população de adultos quanto na de crianças e adolescentes. Para os especialistas, isso sinaliza que, no futuro, haverá vários problemas de saúde. “Não só câncer, mas doenças cardiovasculares, diabetes, entre elas.”
Segundo o coordenador do estudo do INCA, o tratamento do excesso
de peso poderia representar uma economia de R$ 60 milhões no gasto
de R$ 1,4 bilhão registrado pelo governo federal no SUS em 2018. O
dinheiro poupado com a eliminação desse fator de risco poderia ser
aplicado em mais prevenção e em tratamentos mais eficazes,
que podem reduzir a mortalidade por câncer.
Na avaliação de Corrêa, o distanciamento social e o confinamento adotados para impedir a disseminação da covid-19 podem aumentar o percentual de obesos no País, por causa do sedentarismo e do maior consumo de alimentos processados e ultraprocessados. “É provável que, com esses fatores, tenha havido um aumento do excesso de peso na população.” Esclareceu, porém, que aumento de peso não significa que a pessoa vá ter câncer imediatamente. “Existe o que a gente chama de gap [lacuna] temporal. A pessoa vai passar alguns anos exposta àquele fator de risco para desenvolver um câncer.”
Corrêa explicou que a pessoa começa a vida adulta aos 20 anos. Se ficar com excesso de peso até os 30, a partir de 40, 50, 60 anos, tem muito mais risco de ter câncer do que os adultos que se mantiveram no peso ideal. Porém, ao final da pandemia, quem ganhou peso pode retornar às atividades normais e emagrecer. “Não é uma condenação.” Médico definiu a pandemia como um evento transitório, que vai passar.
Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA, disse que os resultados do estudo podem ajudar os formuladores de políticas públicas, como o próprio Instituto, a dar prioridade a ações de controle do câncer. Torna possível buscar equilíbrio entre o que é gasto na prevenção, especificamente no excesso de peso, e o que é gasto com o tratamento do câncer.
Fonte: INCA e Agência Brasil
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