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Escola cívico-militar vai disseminar disciplina e combater a violência

11-02-2019 19:55:13 (1937 acessos)
Superar os altos índices de indisciplina estudantil e violência no sistema educacional brasileiro, é objetivo da escola cívico-militar que já tem 1230 unidades no Brasil. Acompanhada de múltiplas ações que devem envolver a própria família, o novo modelo será apresentado pelo Ministério da Educação nos próximos dias, mas já tem exemplos em Brasília.

 


Ministério da Educação (MEC) deve anunciar nos próximos dias as ações para ampliar o número de escolas cívico-militares no País. No começo de fevereiro houve uma reunião da equipe responsável que fará apenas os ajustes finais antes do lançamento. Trata-se de uma das prioridades, tanto que já instalou a Subsecretaria de Fomento às Escolas Cívico-Militares.

Atualmente, são 120 escolas em 17 estados com o modelo. Maior parte está em Goiás, com 50 estabelecimentos de ensino, de acordo com levantamento da Polícia Militar do Distrito Federal (DF). Na conta ainda não estão incluídas as escolas do DF.

MEC informou em janeiro de 2019 que o modelo se justifica pelos

altos índices de criminalidade brasileiros. “O Ministério da Educação

buscará uma alternativa para a formação cultural das futuras

gerações, pautada no civismo, na hierarquia, no respeito mútuo,

sem qualquer tipo de ideologia, tornando-os desta forma

cidadãos conhecedores da realidade e críticos de fatos reais.”

De acordo com o ministério, são considerados também o desempenho positivo dessas escolas e os “elevados índices nas avaliações”.

O modelo de escola, segundo o MEC, "contará com a participação de vários segmentos da sociedade. Cada ente envolvido, dentro da esfera de competência, terá importância fundamental para a construção de um Brasil melhor. Essas unidades de ensino serão voltadas para as famílias que concordam com essa proposta educacional”. Para ser implementado, o modelo precisa da participação de estados e municípios.

Moral e cívica

Com a ampliação das escolas cívico-militares, voltou ao debate a inclusão da disciplina educação moral e cívica em sala de aula, que é defendida pelo ministro da Educação, Ricardo Vélez.  No Distrito Federal, nas escolas cívico-militares, haverá aula de ética e cidadania.

Sob o nome educação cívica, moral e física da infância e da juventude, a disciplina tornou-se obrigatória no governo de Getúlio Vargas, em 1940. O objetivo era a formação da consciência patriótica.

A disciplina foi adotada também em 1969. Instituída por decreto, tinha como objetivos a preservação, o fortalecimento e a projeção dos valores espirituais e éticos da nacionalidade;  culto à pátria, aos símbolos, tradições, instituições e aos grandes vultos da história; o aprimoramento do caráter, com apoio na moral, na dedicação à família e à comunidade, entre outros.

 

Implantação das escolas

cívico-militares gerou

discussões acaloradas

 

Ao longo das férias, durante as reuniões sobre a implementação das escolas cívico-militares, pais, professores e alunos participaram de debates acalorados. Houve dúvidas e baixa participação durante os encontros. Portaria que trata da implementação do modelo foi publicada no dia 31 de janeiro.

A maioria dos pais, mães e responsáveis apoia o projeto, pois acredita que reduzirá a violência e melhorará o desempenho dos estudantes. É o caso da dona de casa Rosa Lima Nogueira, 47 anos, moradora do Recanto das Emas, mãe de Mirelly, 12 anos. “Aqui é muito violento. Não sei se é porque os pais trabalham muito, não sei explicar, mas tem muita briga na frente das escolas da região. Às vezes, não temos condições financeiras para dar o melhor para nossos filhos. Já pensou, o melhor chegando aqui? Coisa de Deus”, disse a mãe.

Já entre os docentes e parte dos estudantes, a medida peca pelo excesso de rigidez e pela pouca efetividade no processo pedagógico. Além disso, criticam a falta de diálogo e o curto prazo para discussão do modelo. Para o professor de educação física Milton José da Silva, presidente do conselho escolar do CED 308 do Recanto das Emas, a presença da Polícia Militar nas escolas não resolve os problemas da comunidade que impactam no aprendizado dos jovens.  “Essa comunidade precisa de emprego, precisa de renda para as famílias, precisa valorizar mais o trabalho das pessoas e não de disciplina dura. Temos muitos pais que vêm aqui para almoçar. Muitos alunos que vêm para almoçar porque não têm almoço em casa", afirmou o professor.

Recanto das Emas  

Os processos de votação foram diferentes em cada uma das escolas. No CED 308 do Recanto das Emas, que fica a cerca de 30 km do centro de Brasília, uma primeira reunião com a comunidade foi feita no dia 29 de janeiro. Compareceram pais de ex-alunos, pais e responsáveis interessados em matricular os filhos futuramente na escola, pais e estudantes que estavam matriculados no centro de ensino, além de curiosos.

Durante a reunião, um abaixo-assinado passava entre os presentes, sem a conferência de quem tinha ligação com a escola. Segundo o diretor, Márcio Jesus Faria, foram recolhidas 1,4 mil assinaturas, que serviram de comprovação da aprovação do projeto.

A PMDF reuniu-se com os professores para apresentar detalhadamente o projeto no último dia 5. No dia 7, uma nova reunião foi convocada pelo conselho escolar que questionou a legitimidade do abaixo-assinado. Nela, foi feito um controle dos presentes e apenas a comunidade escolar, composta por pais, estudantes e professores, pôde votar. Dos 956 alunos, compareceram à votação 22 estudantes e quatro pais. A maioria votou contra a implantação do modelo. Para a direção da escola e a Secretaria de Educação, o quórum baixo não representa a comunidade.

“Talvez um dos maiores problemas que assolam a educação pública hoje seja a falta de disciplina. Com a falta de disciplina, o professor não consegue ensinar. Com o modelo de gestão compartilhada com a PM vamos conseguir uma disciplina maior e, com isso, o professor vai ser respeitado e conseguir ministrar as aulas com qualidade”, destacou Faria.

Professores reagiram à forma como o processo foi implementado. “A comunidade não foi consultada. A gente ficou sabendo dessa primeira reunião pelas redes sociais. A gente não foi convidada”, disse a professora de história Carina Mendes.

Estrutural

Na última terça-feira (5), foi feita uma reunião no CED 1 da Estrutural. Pais,  professores e estudantes participaram. Mas houve queixas sobre a falta de divulgação em torno das discussões. Para os professores, é preciso investir em várias áreas que envolvem educação, e não na militarização.

Devido ao baixo quórum, a diretora da escola, Estela Accioly, disse que faria uma votação nominal, provavelmente, no dia 13, depois do início das aulas. Dias depois, ela voltou atrás e disse que as assinaturas recolhidas na reunião eram suficientes para implementar o novo modelo. “Percebemos que a comunidade está a favor”, disse a diretora.

Os pais eram minoria na reunião. A costureira Alcione Pereira dos Santos, 32 anos, mãe da Vitória, 9 anos, disse que não foi convocada para reunião e recebeu a informação do projeto por grupo de WhatsApp. Assim que soube da iniciativa, ela disse que foi ao colégio pedir esclarecimentos. Apesar da falta de informação inicial, ela afirma que é favorável ao modelo. “Acho que é um projeto ideal para a Estrutural. É um projeto que vai ajudar muito tanto os adolescentes, quanto as crianças, tinha que ter em todas as escolas”, afirmou a mãe.

Entre os professores, o clima era de dúvida. A professora de língua portuguesa, Sílvia de Oliveira Rocha, defendeu a necessidade de ações estruturais para melhoria da educação. “Há necessidade de investimento educacional. Com a militarização vai vir música, esporte, isso há de se ter em todas as escolas da rede. Além disso, são necessários outros profissionais, como orientadores, psicólogos. Toda estrutura para que se tenha índices melhores”, disse.

Sobradinho

No CED 3 de Sobradinho, a reunião para a votação também foi feita no dia 5, à noite. Ao todo, 556 votaram pela implementação do modelo e 29 foram contrários. A escola tem matriculados 1,7 mil estudantes. Puderam votar os pais, professores, funcionários da escola e estudantes maiores de 18 anos. “Eu estou acreditando muito no projeto. A gente tem dificuldade em relação a droga na escola, a agressão entre os alunos”, afirmou a diretora Andréia Martins da Silva.

Ceilândia

Outra reunião realizada no dia 5 foi a do CED 7 de Ceilândia, no ginásio da escola. O público formado por pais, professores e estudantes – estava dividido. Por isso, houve duas votações.

Dos encontros, o CED da Ceilândia foi o que teve a maior presença de estudantes, maioria contrária à implantação do modelo. “Tem que investir mais em segurança. Para melhorar tem que ter projetos, esportes, coisas assim”, defendeu Robert Oliveira, 17 anos, estudante do 2º ano do ensino médio.

Na segunda votação, o projeto foi aprovado por 58,46% dos presentes. Puderam votar os alunos maiores de 18 anos, os pais ou responsáveis, sendo considerado um voto por família, professor e servidor.

Governo

Para o secretário de Educação do DF, Rafael Parente, as votações foram legítimas, e o projeto foi aprovado em todas as escolas em que foi apresentado.

"De acordo com a lei da gestão democrática, é preciso fazer assembleia nas escolas para que as comunidades escolares aprovem ou não a continuidade do projeto. Fizemos as assembleias nas quatro comunidades. Houve algum tumulto em dois lugares, mas, mesmo assim, fizemos as reuniões, e a maior parte da comunidade escolar, a maior parte dos professores aprovou a participação. A gente seguiu a lei", disse Parente.

 

Policiais militares e professores

farão gestão compartilhada

em escolas incluídas no projeto

 

Primeira semana de aula nas escolas públicas cívico-militares do Distrito Federal é de adaptação. O chamado modelo de gestão compartilhada está sendo adotado em 4 escolas (190211): Centro Educacional (CED) 308 do Recanto das Emas, CED 7 de Ceilândia, CED 1 da Estrutural e CED 3 de Sobradinho.

A proposta é que militares atuem na administração escolar e na disciplina de estudantes, enquanto os professores serão responsáveis pela parte pedagógica. O modelo é inspirado no estado de Goiás, que conta com 50 escolas como essas.

Os estudantes receberão orientações sobre a nova dinâmica da escola. Por três meses, eles não usarão farda, o uniforme das escolas militares, mas calça jeans, camiseta branca e tênis preto, de acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).

“Depois, aí sim, haverá uma formatura da entrega da boina, onde os estudantes recebem o enxoval deles, o uniforme militar, e passarão a usar esse uniforme”, disse a capitão da PMDF Cristiane Caldeira, uma das responsáveis pela implantação do modelo de gestão cívico-militar nas escolas.

Em Goiás, onde estão 50 das 120 escolas cívico-militares do país, o custo médio do uniforme completo, incluindo o calçado, fica em torno de R$ 600.

Adaptação

Segundo a capitão, haverá um período para adaptação. “Eles [estudantes] passarão por um período de adaptação à mudança de rotina. Período para que os adolescentes possam entender a dinâmica pela qual a escola está passando e o corpo docente também”.

A rotina dos estudantes vai incluir hasteamento de bandeira todos os dias cerca de 10 minutos antes do início da aula. Haverá aulas no contraturno, que serão opcionais, com atividades esportivas, musicais e aulas de ética e cidadania, na qual os alunos terão acesso a conceitos de direito, regras da escola, entre outras questões ligadas à vivência em sociedade e disciplina.

Em cada sala de aula, um estudante será o responsável por fazer a chamada e apresentar a turma. Também anunciará o início e o final de cada disciplina, sempre pedindo permissão aos professores.

Aparência

Para as meninas, o coque será obrigatório na rotina diária, exceto paras as atividades esportivas, quando o penteado vai ser o rabo de cavalo. Os meninos terão de usar o chamado “cabelo no padrão baixo”, cortado com máquina dois.

“No momento de adaptação, vamos orientá-los quanto a brincos, piercings, cor de unha e batom, maquiagem. Tudo será orientado para que não haja traumas”, afirmou Cristiane Caldeira.

Gestão

A gestão das quatro escolas será compartilhada entre as secretarias de Educação e de Segurança Pública. Os professores cuidarão da parte pedagógica e os militares, que serão da PMDF e do Corpo de Bombeiros Militar, ficarão responsáveis por questões administrativas e disciplinares. Inicialmente, o projeto será implantado nas quatro escolas, mas a intenção é que chegue a mais 36 este ano e a 200 até 2022.

O projeto é destinado a estudantes do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Neste ano, os uniformes serão entregues gratuitamente. 

Desempenho

O modelo de gestão compartilhada entre militares e professores em escolas no DF é estudado há mais de dois anos, segundo a PMDF. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou em 11 de janeiro a implementação da proposta para este ano letivo.

 “A relação direta do desempenho escolar está calcada na disciplina. A presença do policial dentro da escola visa a aumentar o grau de disciplina desses alunos e reduzir a violência e as transgressões escolares”, disse a capitão da PMDF.  “Quanto mais tempo dentro da sala de aula assimilando conhecimento, melhor desempenho em provas e concursos.”

O assessor especial da Secretaria de Educação do DF, Mauro Oliveira, disse que professores e estudantes matriculados no ano passado têm prioridade e devem permanecer na escola. A partir do próximo ano, as vagas remanescentes serão sorteadas para quem desejar estudar nesses centros de ensino.

“Os professores são os mesmos. Não se mudam alunos. Os alunos são os mesmos. Trabalha-se com a escola. Os alunos que estão lá são os que ficam. Somente posteriormente é que se cria processo por sorteio para que novos alunos entrem na escola”, ressaltou Oliveira.

A proposta é envolver a família no processo educacional, pois a escola passa a contar com uma Associação de Pais e Mestres (Apam). Segundo os responsáveis pela implementação do projeto, os pais poderão contribuir financeiramente com a escola de forma espontânea.

“A contribuição é voluntária. Há um incentivo para que isso aconteça. Queremos trazer os pais para próximo. A comunidade percebe a diferença e os próprios pais começam a contribuir com a escola, pois veem que estão doando e que tem sala com ar condicionado, que passa a ter datashow e que a escola está pintada.”

Alerta

A professora Miriam Fábia Alves, da Faculdade de Educação da Universidade de Goiás, que pesquisa o sistema das escolas militares, alerta sobre riscos sociais. “A exclusão ocorre de diferentes formas. A negativa do direito à educação acontece dentro da escola porque os pais que são mais pobres não têm condições efetivas para bancar o uniforme na dinâmica escolar”, disse. “Além disso, o aluno que não se adapta às regras da escola acaba sendo expulso.”

Miriam Alves critica a lógica militar na educação. “A grande propaganda dessas escolas em Goiás é que são escolas que ensinam a disciplina militar, que tem uma lógica nociva, da obediência cega e irrestrita da autoridade maior. Eu acho que isso é nocivo do ponto de vista de formar as novas gerações, se entendemos que a escola é lugar de socialização do conhecimento, que promove a formação humana de gente, mas gente capaz de entender a realidade.”

 

Aplicativo acompqanha a

rotina da escola e envolve

pais no processo de ensino

 

Pais ou responsáveis pelos estudantes das quatro escolas nas quais será implementado o modelo de gestão cívico-militar no Distrito Federal terão acesso a um aplicativo para ajudar no acompanhamento da rotina escolar. A Secretaria de Educação do DF estuda ampliar o sistema para as demais escolas da rede pública, visando a envolver cada vez mais os pais no processo de ensino.

“Notas, atraso, elogio, dever de casa que não foi feito, tudo isso é lançado, e o próprio sistema avisa aos pais. Então, os pais têm controle diário de eventual atraso do filho. É algo que as escolas particulares têm”, disse o assessor especial da secretaria, Mauro Oliveira.

Oliveira ressaltou que muitos pais não têm acesso a telefone, então a comunicação se dará também por meio da agenda escolar. “O pai recebe bilhete que o aluno recebeu elogio, que ele se destacou ou que não fez o dever ou chegou atrasado. Isso estabelece vínculo com o pai”, acrescentou.

O aplicativo GR8 Escolar é usado em Goiás e foi cedido pelo governo ao DF. “[Queremos] buscar o máximo das melhores práticas e que possam ser replicadas. Esse é o grande ganho tanto desse projeto quanto de outros de sucesso. Há escolas que não têm esse modelo [cívico-militar], mas são de sucesso. O que for de boas práticas deve ser replicado, com certeza”, destacou.

Estudos mostram que a maior participação de pais e responsáveis na educação das crianças e adolescentes ajuda a melhorar o rendimento deles na escola. A participação dos responsáveis tem inclusive mais peso que a infraestrutura das escolas.

Tarefa

Mariney Helena da Luz Stein, professora de artes visuais do CED 308 do Recanto das Emas, disse que obter o engajamento não é tarefa fácil. “Ano passado, como professora, convoquei os pais, carimbei caderno, chamando a atenção dos pais para a falta de comprometimento dos filhos”, disse. “Pedi para, por favor, acompanhar a vida escolar dos filhos. Até agora, não tive respaldo de nenhum pai. Nenhum carimbo foi assinado por um pai sequer.”

Lindalva de Maria da Silva Serra, autônoma, 36 anos, prova que existem exceções, pois faz questão de acompanhar as atividades da filha, Jéssica, 11 anos, aluna do CED 1 da Estrutural.  “Sempre que posso venho para a escola, participo de reunião. Ajudo no dever de casa. Ela tem facilidade de fazer sozinha o dever e tem notas boas. Se o pai não acompanhar, se deixar jogada, a criança não vai desenvolver. A gente acompanhando, tem resultado muito melhor.”

 

 

Fonte: Agência Brasil
 

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